Exemplos de Redações nota 1000 no ENEM 2019

A redação é a parte mais importante na prova do ENEM, pois é a única nota em que é possível alcançar 1000 pontos e muitas universidades dão um peso maior a redação.

Por esse motivo é essencial que você estude e treine para a Redação do ENEM. Para isso selecionamos as redações de alguns alunos que tiraram nota 1000 na redação do ENEM 2019 cujo tema foi Democratização do acesso ao cinema no Brasil. Confira abaixo:

Redação de Gabriel Melo

Para o filósofo escocês David Hume, a principal característica que difere o ser humano dos outros animais é o seu pensamento, habilidade que o permite ver aquilo que nunca foi visto e ouvir aquilo que nunca foi ouvido. Sob essa ótica, vê-se que o cinema representa a capacidade de transpor para a tela as ideias e os pensamentos presentes no intelecto das pessoas, de modo a possibilitar a criação de novos universos e, justamente por esse potencial cognitivo, ele é muito relevante. É prudente apontar, diante disso, que a arte cinematográfica deve ser democratizada, em especial no Brasil – país rico em expressões culturais que podem dialogar com esse modelo artístico –, por razões que dizem respeito tanto à sociedade quanto às leis.

Em primeiro lugar, é válido frisar o cinema dialoga com uma elementar necessidade social e, consequentemente, não pode ser deixado em segundo plano. Para entender essa lógica, pode-se mencionar o renomado historiador holandês Johan Huizinga, o qual, no livro "Homo Ludens", ratifica a constante busca humana pelo prazer lúdico. É exatamente nessa conjuntura que se insere o fenômeno cinematográfico, uma vez que ele, ao possibilitar a interação de vários indivíduos na contemplação do espetáculo, faz com que a plateia participe das histórias, de modo a compartilhar experiências e vivências. É perceptível, portanto, o louvável elemento benfeitor dessa criação artística , capaz de garantir a coesão da comunidade.

Em segundo lugar, é oportuno comentar que o cenário do cinema supracitado remete ao arcabouço jurídico do país. Isso porque o artigo 215 da Constituição Federal é claro em caracterizar os bens culturais como um direito de todos, concebidos com absoluta prioridade por parte do Estado. Contudo, é desanimador notar que tal diretriz não dá sinais de plena execução e, para provar isso, basta analisar as várias pesquisas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN ) que demonstram a lamentável distribuição das práticas artísticas — dentre elas, o cinema—, uma vez que estão restritas a poucos municípios brasileiros. Vê-se, então, o perigo da norma apresentada findar em desuso, sob pena de confirmar o que já propunha Dante Alighiere, em "A Divina Comédia": "As leis existem, mas quem as aplica?". Esse cenário, certamente, configura-se como desagregador e não pode ser negligenciado.

Por fim, caminhos devem ser elucidados para democratizar o acesso ao cinema no Brasil, levando-se em consideração as questões sociais e legislativas abordadas. Sendo assim, cabe ao Governo Federal – órgão responsável pelo bem-estar e lazer da população – elaborar um plano nacional de incentivo à prática cinematográfica, de modo a instituir ações como a criação de semanas culturais nacionais, bem como o desenvolvimento de atividades artísticas públicas. Isso pode ser feito por meio de uma associação entre prefeituras, governadores e setores federais — já que o fenômeno envolve todos esses âmbitos administrativos —,os quais devem executar periódicos eventos, ancorados por atores e diretores, que visem exibir filmes gratuitos para a comunidade civil.Esse projeto deve se adaptar à realidade de cada cidade para ser efetivo. Dessa forma, o cinema poderá ser, enfim, democratizado, o que confirmará o que determina o artigo 215 da Constituição. Assim, felizmente, os cidadãos poderão desfrutar das benesses advindas dessa engrandecedora ação artística.

Redação de Gabriela Alencar

No século XX, a Escola de Frankfurt se aplicou sobre o estudo das tecnologias na disseminação da cultura. Sob esse viés, esperava-se que as massas tivessem um acesso mais democrático aos bens culturais, dada a ampla presença do meio técnico-informacional entre a população. No Brasil, contudo, tal expectativa não se efetivou, haja vista as dificuldades relativas à democratização do acesso ao cinema, demandando a intervenção governamental acerca dessa problemática. Ademais, é preciso entender a importância do cinema no contexto da plena cidadania, bem como a razão de o consumo desse bem não ser totalmente inclusivo.

A princípio, nota-se o papel significativo do cinema na vida dos cidadãos, pois essa modalidade artística, enquanto representação da realidade, serve para formar o pensamento crítico dos indivíduos. Nesse sentido, o Cinema Novo exemplifica bem tal perspectiva, uma vez que denunciava as mazelas sociais das décadas de 1960 e 1970, impulsionando o engajamento dos brasileiros em prol da liberdade de expressão e da garantia de seus direitos. Assim, constata-se que esse bem cultural é demasiadamente importante para fomentar a cidadania por meio do diálogo entre a arte e a sociedade, evidenciando a premência de ser democratizado.

Simultaneamente, percebe-se que o acesso ao cinema, no Brasil, vai ao encontro das desigualdades socioespaciais típicas do país. Isso porque as regiões Sul e Sudeste têm sido privilegiadas em detrimento das outras desde o período colonial, porquanto os ciclos desenvolvimentistas, como o da cana-de-açúcar, o do ouro e o do café, favoreceram a concentração de riquezas e, portanto, de infraestrutura. Consequentemente, a oferta de lazer também é desigual, o que exclui as populações já marginalizadas historicamente da disseminação cultural através do cinema.

Diante do exposto, fica clara a necessidade de democratizar o acesso a esse bem cultural devido aos seus benefícios para a sociedade brasileira. Para tanto, o Ministério da Cidadania, responsável pela promoção da cultura, deve ampliar as ações de democratização do cinema em parceria com os governos estaduais e os municipais. Isso será feito mediante um pacote de ações a serem incluídas na Lei Plurianual, a saber: destinação de recursos de forma mais igualitária para todas as regiões, com foco na infraestrutura de lazer, como cinemas rotativos e em espaços públicos - parques, por exemplo - a fim de fugir da conjuntura elitista dos cinemas em “shoppings”, além da redução de impostos sobre a distribuição de filmes, com vistas a tornar o acesso a esses bens mais barato para a população em geral, cumprindo, assim, a premissa da Escola de Frankfurt quanto à disseminação cultural.

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