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Exemplos de Redações Nota máxima: Fuvest 2020

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Exemplos de Redações Nota máxima: Fuvest 2020

Escrito por Prof. Raquel de Lima

Atualizado em 3 de Dezembro de 2024

Passar na Fuvest e garantir sua vaga na USP é uma missão desafiadora. Não é à toa: estamos falando da universidade mais renomada e concorrida do Brasil.

Mas aqui vai uma boa notícia: você não precisa encarar essa jornada no escuro. Eu reuni redações que conquistaram os tão desejados 50 pontos na prova deste ano, cujo tema foi O papel da ciência no mundo contemporâneo.

Com essas redações, você vai entender o que realmente faz diferença no texto, quais são os acertos indispensáveis e como elevar sua escrita ao nível de quem chega lá.

Quer descobrir o segredo por trás dessas notas máximas? Vem comigo que eu te mostro!

Redação 1: Cara ou coroa: o papel ambíguo da ciência no mundo contemporâneo


"Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas": tal ideia resume a teoria humanitista apregoada pelo filósofo Quincas Borba, da obra homônima de Machado de Assis. Conforme se apreende dessa fala, o personagem concebia a vida por meio da sua associação a um campo estratégico de luta, tal como representavam, metaforicamente, as duas tribos antagônicas em disputa pela sobrevivência. Destarte, o humanitismo, não por acaso, é frequentemente tido como uma sátira às correntes cientificistas típicas do século XIX e, em especial, ao darwinismo social defendido por Herbert Spencer, que previa a seleção natural dos indivíduos mais adaptados ao meio, de modo análogo ao proposto por Darwin na Biologia. Sob tal perspectiva, em um mundo cada vez mais globalizado, o acesso ao conhecimento e às tecnologias digitais, notadamente desigual, tem se tornado constante alvo de cobiça, norteando as relações de poder existentes e ressignificando o papel conferido à ciência no cenário contemporâneo.

Desde a Antiguidade, contudo, a razão tem sido objeto de discussão na Filosofia, sendo colocada, inclusive, como pilar principal da sociedade justa idealizada por Platão na célebre obra "A República". Durante a Idade Média, por sua vez, a Igreja Católica exercia, de certa forma, um monopólio sobre o conhecimento, adequando-o à visão religiosa e utilizando-o como instrumento de dominação. Nesse sentido, o período medieval foi intitulado, pelos pensadores iluministas, de "Idade das Trevas", expressão que se opunha àquela usada por eles para se referir ao século XVIII, o "Século das Luzes". De modo alegórico, a mencionada antítese refletia o caráter que então se pretendia dar ao conhecimento cientifico, capaz de afugentar o breu da ignorância e, como uma lanterna, iluminar o caminho a ser seguido em direção ao aperfeiçoamento da sociedade, pensamento posteriormente reforçado pelo filósofo francês Auguste Comte. Em sua visão teleológica, o intelectual elaborou a Teoria dos Três Estágios, elencando a ciência como meio a partir do qual a humanidade poderia evoluir até atingir o Estágio Positivo ou Científico, que simbolizaria o máximo grau de desenvolvimento.

Sem embargo, a despeito dos discursos iluminista e positivista, o aprimoramento do conhecimento evidenciou outras contradições: a Revolução Industrial inaugurou novas relações de exploração; as Guerras Mundiais estimularam a criação de armamentos potencialmente destrutivos; a Guerra Fria tornou a ciência um campo, agora oficial, de disputa; e a globalização incentivou o surgimento de uma nova maneira de exclusão social, vinculada ao acesso desigual às tecnologias digitais. A partir disso, pode-se perceber a clara materialização da teoria desenvolvida pelos frankfurtianos Theodor Adorno e Max Horkheimer, responsáveis por analisar a denominada "razão instrumental". Segundo eles, o conhecimento teria se tornado um importante instrumento de dominação, ampliando a capacidade de interferência do homem sobre a natureza, como corrobora a intensificação de problemas ambientais, e sobre o próprio homem, a exemplo do emprego de tecnologia nuclear como forma de dissuasão no contexto geopolítico mundial.

Desse modo, em virtude dos aspectos abordados, constata-se o papel ambíguo da ciência na realidade contemporânea, pois, paralelamente às facilidades de transporte, comunicação e entretenimento disponíveis atualmente, fica evidente que a instrumentalização da razão representa uma fonte propulsora das hodiernas relações de poder. Consequentemente, apesar de desafiador, o uso consciente e democrático da ciência é indispensável para rechaçar a situação de permanente guerra prevista pela teoria humanitista e consolidar o conhecimento como alicerce do tão almejado desenvolvimento, conforme sonhavam Platão e Comte.

Redação 2: A ciência libertadora contra a racionalidade instrumental

Há mais de dois mil anos, Platão discorria, no Mito da Caverna, sobre o início do processo de transposição da doxa - pensamento calcado em opiniões e senso comum - em direção à episteme ou à verdade. A partir disso, segundo ele, a razão e o contato com o conhecimento permitiram que o homem se desvencilhasse das amarras da ignorância e chegasse à luz - signo para o pensamento racional e para a liberdade proporcionada por ele. Modernamente, um grande mantenedor da razão e da liberdade é a ciência, que, por meio de seus métodos, ajuda na distinção do falso e da verdade e, se realizada com as intenções corretas, colabora para a maioridade dos indivíduos e para a manutenção das democracias. Porém, sem um simultâneo desenvolvimento moral e ético, ela pode se tornar um instrumento de manipulação e consolidação de privilégios.

O método e o pensamento científicos baseados na dúvida metódica do filósofo Descartes, ao superar os laboratórios e chegar ao ensino básico e à vida das pessoas leigas, fomentam, na população, um senso crítico e uma compreensão da realidade mais eficientes. Para esse filósofo, o indivíduo que busca o conhecimento deve sempre duvidar daquilo que vê e ouve, fazer uma análise íntegra dos fatos e das suas origens para, depois, tirar conclusões sobre o que é verdade ou não. Com isso, a episteme pode se aproximar do homem, a doxa pode ser finalmente transposta e a humanidade pode atingir o que o filósofo Kant chamou de maioridade, ou seja, autonomia de pensamento para o indivíduo, sem a interferência de outros. Dessa forma, o pensamento científico, por proporcionar às pessoas senso crítico e independência de raciocínio, possibilita que elas sejam
agentes de suas próprias vidas, saibam agir diante de líderes populistas que usam discursos falaciosos para angariar apoio popular, consigam interpretar suas realidade e, com autonomia, exigir de seus governantes as mudanças necessárias. Todavia, o descaso com a ciência por parte dos políticos impede que ela seja inserida na vida das pessoas desde a educação básica e afasta os indivíduos de seus benefícios.

Esse descaso e o distanciamento entre população e ciência não são apenas por incapacidade dos políticos ou falta de verbas, estão também relacionados com uma tentativa de privar as massas de liberdade e de capacidade de raciocínio. Segundo os filósofos Adorno e Horkheimer, a ciência e a razão podem ser usadas como instrumentos para manter o status quo de desigualdades, injustiças e privilégios e, a partir da racionalidade instrumental, os mais poderosos e privilegiados usam a
ciência não como forma de obter progresso coletivo, mas sim vantagens individuais. Tais agentes, deliberadamente, usam a tecnologia para disseminarem fake news e, assim, interferirem nos recentes processos eleitorais americano e brasileiro ou para, inclusive, descreditar a própria ciência, como aconteceu no espalhamento da ideia de que os dados do INPE sobre as queimadas e desmatamento na Amazônia eram mentirosos e exagerados. Logo, sem uma ética consolidada, a ciência pode ser uma ferramenta para a manutenção, paradoxalmente, do senso comum, da ignorância e da escuridão da caverna da menoridade.

A iluminação ou a maioridade causadas pelo pensamento científico são, portanto, uma forma de o indivíduo contemporâneo atingir sua liberdade de raciocínio e, assim, defender a democracia da manipulação, falácias e fake news e, até mesmo, proteger-se da própria ciência quando ela assume a forma de racionalidade instrumental nas mãos dos mais poderosos. Distante do pensamento científico, o homem não se defende da manipulação deliberada e retorna à doxa.

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