Modelos de redação

Veja 47 Redações nota 1000 do ENEM 2023

Confira 47 Redações nota 1000 de alunos que garantiram a nota máxima no ENEM 2023!

Veja 47 Redações nota 1000 do ENEM 2023

Escrito por Prof. Raquel de Lima

Atualizado em 12 de Junho de 2024

Garantir a nota máxima na redação não é uma tarefa fácil. Prova disso é a quantidade mínima de alunos que conseguem esse feito - pra você ter uma ideia em 2023 somente 60 alunos tiraram 1000 na redação.

Infelizmente o nervosismo da prova e o fato do tema ser um assunto inesperado acabam sendo empecilhos nessa missão quase impossível. Ainda que seu sonho não seja tirar a nota máxima, garantir uma nota alta aumenta suas chances de aprovação.

Então a melhor maneira de se preparar pro ENEM 2024 é praticando e analisando essas redações exemplares pra colocar em prática o que esses estudantes fizeram. E pra te ajudar nessa missão eu selecionei 47 redações nota 1000 do ENEM 2023, bora ver?

Alessandra Ribeiro

A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 prevê a todos os direitos à igualdade e à dignidade. Porém, na contemporaneidade brasileira, a concretização da garantia em voga é dificultada pelos desafios relacionados ao enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher. Tal cenário ocorre, em especial, devido à morosidade estatal e à má formação sociocultural.

De início, é imprescindível ressaltar a desassistência do Poder Público como fator agravante do diminuto reconhecimento social em questão. A partir da perspectiva citada, segundo o filósofo Friedrich Hegel, o Estado é o pilar inicial de uma nação, isto é, constitui o meio correferido à atenuação das mazelas sociais. No entanto, o Governo permanece ineficaz, no tocante à efetivação do referido princípio, em virtude da escassez de investimentos voltados a combater a invisibilização do trabalho de cuidado feminino, visto que diversas mulheres, principalmente das classes mais baixas, sofrem com a baixa remuneração e cargos exaustivos de afazeres domésticos e de cuidados às pessoas que demandam serviços de assistência, como crianças e idosos, o que mostra a negligência das autoridades em oferecer iguais oportunidades de empregos  remunerados a ambos os sexos. Como efeito, enquanto persistir a insuficiência governamental, a desigualdade de gênero continuará a crescer.

Ademais, a precária formação sociocultural ratifica a preocupante situação mencionada. Sob essa óptica, de acordo com o educador Paulo Freire, "Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda". Todavia, percebe-se que a escola não oferece uma instrução qualificada, no tangente à aprendizagem das consequências da desvalorização das atividades de cuidado realizadas pelas mulheres, já que grande parte das instituições educacionais foca em um ensino extremamente conteudista, pouco voltado para debates cívicos acerca das questões de gênero. Além disso, notabiliza-se a letargia familiar, uma vez que é ínfima a transmissão de princípios e de valores referentes à importância da divisão de tarefas diárias de forma igualitária entre os sexos, porquanto a normalização da mentalidade patriarcal é reflexo da não prioridade dada ao assunto em análise. Logo, há um aumento considerável do preconceito contra a mulher no cotidiano brasileiro.

Diante dos fatos supracitados, o Estado, agente regulador da comunidade, deve mobilizar a iniciativa privada, por meio de investimentos e de incentivos fiscais direcionados ao combate à invisibilidade do trabalho de auxílio feito pela mulher, bem como ao oferecimento de empregos formais de maneira justa e igual entre homens e mulheres, a fim de melhorar a qualidade de vida da população. Simultaneamente, é fundamental que a escola, aliada à família, oriente e eduque os alunos, desde a tenra idade, por intermédio de palestras – ministradas por profissionais qualificados –, de atividades lúdicas, de diálogo e de exemplos, que expliquem a importância da igualdade de gênero e do respeito a todos, com o intuito de formar cidadãos competentes. Assim, os direitos à igualdade e à dignidade, previstos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, poderão ser efetivados.

Alex Novais

A escritora nigeriana Chimamanda Adichie - em sua obra “Sejamos Todos Feministas” - afirma que a mudança do “status quo” é sempre penosa, ou seja, existem certos padrões sociais que rejeitam as transformações. Nesse sentido, percebe-se, no Brasil, que a invisibilidade do trabalho de cuidado exercido pela mulher é um desafio estrutural que se enquadra na ótica de Adichie. Tal problema se deve, sobretudo, à construção histórico-cultural do papel feminino na sociedade, cuja consequência é o preconceito e a desvalorização desse ofício.

Diante desse cenário, é importante ressaltar que os entraves relacionados ao labor de assistência pessoal - majoritariamente realizado por mulheres - podem ser explicados pelo fato de elas terem sido, historicamente, delimitadas a cumprir determinadas funções sociais. Sob esse viés, a filósofa Simone de Beauvoir explica - atráves da ideia do “segundo sexo” - a formulação dos papéis de gênero no corpo social, os quais se caracterizam, no caso da mulher, pela atribuição de tarefas tidas pela sociedade como secundárias, como a limpeza e o cuidado. A partir disso, constata-se a permanência dessa mentalidade atrasada no contexto brasileiro, uma vez que ainda é culturalmente atribuída à mulher a função de prestar assistência às pessoas e ao lar. Assim, por tais incumbências, como dito por Beauvoir, serem classificadas como secundárias, há uma invisibilidade prejudicial associada a elas - o que contribui para a manutenção do problema.

Como consequência disso, há a discriminação dessas trabalhadoras, que é refletida na precariedade laboral. Nesse contexto, Kimberlé Willians Crenshaw - cientista política - formulou o conceito de “Interseccionalidade”, o qual se refere à existência de um cenário social em que ocorre a sobreposição de diversos preconceitos, gerando uma marginalização complexa do indivíduo submetido a essa condição. Tendo isso em vista, a realidade do trabalho de cuidado no Brasil pode ser entendida sob o viés da interseccionalidade, dado que, em geral, os agentes sociais com tais atribuições são mulheres negras de classe baixa. Esse fator cria um cenário de desvalorização da tarefa de assistência, que se expressa, por exemplo, na má remuneração desta. Dessa forma, para transfigurar o problema, nota-se a necessidade de descortinar a questão.

Portanto, é preciso que o Ministério da Educação - responsável por gerir o plano educacional do país - amplie, no ambito escolar, o ensino sobre a equidade de gênero, por meio da inclusão do estudo de filósofas e sociólogas que tratem do assunto. Isso terio o intuito de desconstruir o papel de “segundo sexo” dado às mulheres, o que, por efeito, sanaria a marginalização daquelas que trabalham com o cuidado e tiraria a invisibilidade desse problema. Ademais, o Ministério do Trabalho deve assegurar as leis trabalhistas em todos os ramos da assistência às pessoas e ao lar, para impedir casos de condições degradantes dessa função social. Com tais medidas, o Brasil conseguiria a penosa tarefa de mudar o “status quo”.

Amanda Zampires

Na obra intitulada "Brasil, País do Futuro", Stefan Zweig, autor austríaco, em sua visita ao Brasil, defende a ideia de que o país estava destinado a ser um dos mais importantes países do mundo no futuro. No entanto, 30 anos depois, as previsões do autor ainda não se concretizaram e os desafios para o trabalho de cuidado - realizado por mulheres - são entraves para isso. Observa-se, assim, que isso ocorre porque a negligência governamental e a permanência histórica impedem essa evolução.

Sob esse viés, é preciso atentar para a omissão estatal presente nessa problemática. Nessa perspectiva, o pensador Thomas Hobbes afirmou que o Estado é responsável por garantir o bem-estar da população. Entretanto, isso não ocorre no Brasil, pois a falta de atuação das autoridades corrobora a permanência do trabalho não remunerado, principalmente, por mulheres - que inclui cuidar de crianças e idosos, bem como os afazeres domésticos. Visto que o Governo não tem cumprido seu papel no sentido de assegurar os direitos básicos a esse grupo social, como o direito a um salário digno. Assim, as funções sociais e estatais são descumpridas, agravando o problema.

Outrossim, a permanência histórica é fator importante como constituinte desse imbróglio. Nesse sentido, consoante o pensamento do antropólogo Claude Lévi-Strauss, só é possível compreender adequadamente as ações coletivas por meio do entendimento dos eventos históricos. Desse modo, a questão da invisibilidade do trabalho de cuidado feito por mulheres majoritariamente pobres e vítimas de discriminação de gênero, mesmo que fortemente presente no século XXI, apresenta raízes indissociáveis à história brasileira - que foi marcada pelo machismo e pelo patriarcado -, uma vez que as atividades domésticas não pagas ainda são delegadas às pessoas do sexo feminino de forma quase que exclusiva.

Faz-se necessário, portanto, que meios sejam criados para intervir nesse óbice. Logo, o Governo Federal - órgão responsável pela administração federal em todo território nacional - deve estabelecer políticas públicas que garantam a remuneração e a valorização do trabalho de cuidado, por meio da utilização de verbas governamentais para o pagamento de salários. Tal ação deve ser realizada com a finalidade de mitigar a invisibilidade dos afazeres domésticos realizados pela maioria da sociedade brasileira e, consequentemente, combater as raízes históricas presentes nessa questão. Dessarte, o Brasil poderá se tornar um "País do Futuro", como defendido por Stefan Zweig.

Ana Carolina Richel

Em outubro de 1988, a sociedade conheceu um dos documentos mais importantes da história do Brasil: a Constituição Cidadã, cujo conteúdo garante direito à dignidade. Todavia, milhares de pessoas vivem distantes da realidade pregada pela Carta Magna, visto os desafios envolvidos no enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher. Diante disso, faz-se necessário combater a omissão estatal e reconhecer a importância dessas atividades.

Acerca dessa lógica, cabe ressaltar que a precária ação governamental contribui para a pouca atenção oferecida ao público que realiza tarefas de cuidado. Nesse sentido, a antropóloga Lilia Schwarcz elaborou o termo "política de eufemismos", ou seja, determinados problemas tendem a ser suavizados, deixando de receber a visibilidade necessária. Nesse viés, o Estado falha ao não garantir adequadas condições de emprego e remuneração às mulheres que realizam trabalho doméstico diário, o que prejudica a qualidade de vida dessa parcela da sociedade. Logo, enquanto o Governo não oferecer direitos de trabalho dignos, parte expressiva do público feminino persistirá sem o adequado reconhecimento trabalhista e social.

Além disso, reconhecer a importância das tarefas de assistência é condição para enfrentar sua invisibilidade. Nesse cenário, o sociólogo frânces Pierre Bordieu elaborou o conceito de "violência simbólica" como a opressão que, embora não seja palpável, causa danos morais e psicológicos. Nessa lógica, a sociedade falha ao não compreender a relevância dos trabalhos de cuidado realizados por inúmeras mulheres que contribuem para atividades essenciais de transformações sociais e que não são valorizadas em atividades de reprodução da vida. Portanto, enquanto a população não atribuir os devidos valores a essas trabalhadoras, elas continuarão invisibilizadas.

Destarte, medidas são necessárias para combater esse cenário social. Para isso, o Governo Federal – instância de máxima autoridade trabalhista – deve fixar um piso salarial adequado com garantias de direitos para quem realiza trabalhos de cuidado, por intermédio da diminuição de impostos de quem as contrata e melhor direcionamento de verbas, a fim de combater a invisibilidade, garantindo, como efeito, melhoria da qualidade de vida desses indivíduos. Ademais, também é seu dever estimular o reconhecimento dessas profissionais, mediante publicações nas redes sociais que modifiquem percepções sociais errôneas desse trabalho. Afinal, somente assim será possível cumprir um importante direito previsto na Carta Magna.

Ana Luiza Coutinho

Um dos contos presentes no livro "Laços de Família", de Clarice Lispector, acompanha a epifania da personagem Ana ao fugir de seus afazeres domésticos. Ela, que se via sentenciada a cuidar da casa e dos filhos, assemelha-se a muitas mulheres brasileiras, que exercem essa e outras tarefas diariamente, sem valorização e, até mesmo, sem remuneração. Nesse sentido, cabe analisar as causas socioeconômicas da invisibilidade do trabalho de cuidado no Brasil contemporâneo.

Em primeira perspectiva, a sociedade limita a mulher e sua função social ao ambiente caseiro e à realização de cuidados especiais. Isso ocorre porque, de acordo com o corpo social estabelecido, a essência cuidadosa é algo inerente ao feminino, muitas vezes associada à maternidade. Todavia, essa característica é construída e imposta às mulheres, que são frequentemente moldadas — assim como elucidado por Simone de Beauvoir: "Não se nasce mulher, torna-se". Esse cenário é instigado pela cultura patriarcal e machista da nação, que atribui o cuidado e o lar somente ao sexo feminino. Desse modo, esse trabalho é visto como uma obrigação da mulher, e não como um trabalho de fato, o que, por conseguinte, gera a desvalorização de tão importante exercício.

Ademais, o cuidado não é percebido com valor de mercado. Isso, porque não é uma atividade altamente lucrativa e produtiva, do ponto de vista mercadológico, o que, segundo Byung Chul-Han em "A Sociedade do cansaço", são fatores valorizados nos dias atuais. Esse panorama se dá pela lógica capitalista que norteia as relações de trabalho no mundo hoje, priorizando o lucro de indústrias e empresas em detrimento do cuidado com pessoas — majoritariamente exercido por mulheres. Consequentemente, há a má remuneração dessa ocupação, o que afeta a igualdade de gênero na inserção no mercado de trabalho e atrapalha a emancipação feminina.

Portanto, fazem-se evidentes as matrizes da invisibilidade do trabalho de cuidado em solo nacional. Logo, não se deve hesitar: são necessárias medidas para a erradicação da problemática. É responsabilidade, então, do Ministério da Educação — órgão federal que gere o ensino brasileiro — alterar a estrutura machista e patriarcal nas salas de aula. Isso pode ser feito por meio da inserção na Base Nacional Comum Curricular de formas de empoderamento feminino como assunto obrigatório na formação cidadã. Essa mudança deve ser alcançada com a finalidade de valorizar o trabalho exercido por mulheres, principalmente os mais invisíveis, como o de cuidado. Outrossim, cabe ao Governo Federal aumentar o salário mínimo atual, com o objetivo de garantir uma remuneração adequada a todos, bem como às mulheres, que se ocupam com o cuidado, favorecendo suas independências financeiras. Quem sabe, assim, todas as "Anas" que cuidam do Brasil tornar-se-ão visíveis, valorizadas e prestigiadas.

Ana Luiza Tobler

Na obra autobiográfica Eu Sou Malala, a ativista paquistanesa Malala Yousafzai afirma que as mulheres são as principais engrenagens por trás da máquina social, ou seja, apesar de terem um papel fundamental para o funcionamento coletivo, não são devidamente valorizadas. Diante dessa conjuntura, é possível relacionar a passagem da escritora com o cenário de invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil, o qual apresenta desafios para o seu enfrentamento. Nesse sentido, é válido citar a formação cultural e a apatia social como obstáculos para a resolução do problema citado.

De início, é importante mencionar as bases culturais do país como empecilhos para a mitigação da problemática em destaque. Segundo o livro Casa Grande e Senzala, escrito pelo sociólogo Gilberto Freyre, o Brasil foi fundado a partir de pilares como a misoginia. Sob essa óptica, percebe-se que, embora tenha sido escrita com base no contexto colonial brasileiro, a obra pode ser relacionada à atualidade, uma vez que a opressão feminina ainda se faz presente por meio de mecanismos como a invalidação das atividades realizadas pelas mulheres, principalmente quando se trata dos trabalhos de cuidado, os quais consistem nos afazeres domésticos e cuidados com crianças, idosos e portadores de deficiências. Assim, nota-se que as profissões fundamentais para o bom funcionamento coletivo, como os cuidadores de creches ou hospitais, por serem protagonizadas pela população feminina, são invalidadas, o que evidencia o papel da formação sociocultural como agente perpetuador do cenário desafiador do enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado feito por mulheres.

Outrossim, é necessário pontuar a apatia da sociedade como outro fator que dificulta a resolução do problema em análise. De acordo com a filósofa alemã Hannah Arendt, em sua teoria sobre a banalidade do mal, quando os indivíduos são constantemente expostos a determinadas situações extremas, eles tendem a tratá-las como comuns, perdendo o senso de urgência. Sob esse prisma, é possível conectar o pensamento da estudiosa com o cenário de invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela população feminina no Brasil, tendo em vista que, por ser uma problemática profundamente enraizada no corpo social, é tratada com normalidade, não havendo uma mobilização popular em prol da mudança dessa realidade. Dessa forma, visualiza-se como a indiferença coletiva perante a situação mencionada representa um desafio para o enfrentamento da invalidação do trabalho de cuidado feito por mulheres no país.

Dessarte, cabe às escolas, agentes dotados de grande poder de transformação social, a criação de um projeto de estímulo à valorização dos trabalhos de cuidado realizado por mulheres. Essa ação deve ser realizada com o fim de evidenciar a importância dessas tarefas, por meio de aulas e palestras ministradas por especialistas, de forma a minimizar a apatia social, promovendo mobilização popular em prol desse debate, e amenizar, gradualmente, as bases socioculturais que invalidam as mulheres. Desse modo, será viável diminuir os desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres, mudando a realidade descrita por Malala Yousafzai.

Andreza Cristina Oliveira

José Saramago usou o conceito de "cegueira social" para criticar o comportamento egoísta da sociedade. Na realidade Brasileira, a crítica de Saramago é verificada na questão do trabalho de cuidado realizado pela mulher, visto que apresenta diversos desafios para o enfrentamento de sua invisibilidade. Dessa forma, a problemática persiste devido à má influência midiática e à formação familiar.

Sob esse viés, aponta-se como um fator determinante a negligência por parte da mídia Para Pierre Bourdieu, “o que foi criado como instrumento de democracia não deve ser convertido em mecanismo de opressão."" Entretanto, a mídia tem sido pouco democrática em relação ao trabalho de cuidado, já que, muitas vezes, em novelas dos canais abertos, são transmitidas cenas que romantizam a rotina diária das mulheres do lar, e pouco se fala sobre as reais dificuldades desse trabalho tão importante, o que colabora com o silenciamento que impera. Assim, responsabilizar a mídia pela inviabilização presente no tema é urgente.

Ademais, ressalta-se que a formação familiar influencia fortemente o problema. Nesse sentido, Talcott Parsons defende que "a família dá início à formação do individuo." Porém, tal formação geralmente é falho quanto no trabalho de cuidado, pois muitos familiares desde cedo condicionam seus filhos a acreditar e a agir de acordo com a divisão de tarefas com base no gênero, criando a falsa crença de que tarefas domésticas são destinadas só às mulheres, o que reforça o estereótipo de "dona de casa" e contribui para a invisibilização do valor dessa atribuição. Logo, urge que a família repense a formação de seus filhos, como defende Parsons.

Portanto, é necessária uma intervenção pontual. Para isso, a Rede Globo deve transmitir debates entre sociólogas especialistas no âmbito do trabalho de cuidado, por meio da criação de programas, a fim de ampliar o conhecimento da população sobre o assunto, e, consequentemente, reduzir a invisibilidade existente. Tal ação pode, ainda, ser divulgada nas redes sociais para alcançar um número maior de telespectadores. Paralelamente, é indispensável atuar sobre a formação familiar lacunar. Dessa maneira, a mídia poderá ser vista como instrumento de democracia, como afirma o filósofo Bourdieu.

Anna Beatriz Ramalho

Na Grécia Antiga, onde os homens se encarregavam da política, da filosofia e das artes, consideradas áreas honradas, as mulheres desempenhavam o papel considerado inferior de cuidar dos afazeres domésticos e, sobretudo, de cuidar das crianças e dos idosos da família. Atualmente, no entanto, a conjuntura se assemelha ao momento histórico supracitado, visto que o trabalho feminino que se resume à casa e aos cuidados da família ainda é desvalorizado na sociedade. Dessa forma, é imprescindível combater a invisibilidade do trabalho de cuidado feito pela mulher no Brasil, destacando a desigualdade de gênero e a displicência estatal como principais entraves nesse objetivo.

Em primeiro plano, compreende-se que o desequilíbrio de gênero é determinante para que a problemática perdure, uma vez que a figura masculina é mais valorizada em detrimento da figura feminina, principalmente no que tange aos trabalhos realizados por cada um. Junto a isso, a luta feminina por visibilidade atravessa séculos, dado que a realidade desigual proveniente da Grécia Antiga reflete os dias atuais, em que não é dada a devida importância ao afazer doméstico e ao cuidado parental desempenhados pela mulher, em virtude de discursos errôneos de gênero que pregam superioridade masculina. Para mais, segundo o teórico político Jean-Jacques Rousseau, "a desigualdade é a fonte primária de todos os males sociais". Analogamente, os abismos de assimetria de gênero existentes na comunidade aumentam a invisibilidade do trabalho feminino e, assim, devem ser combatidos para atenuar a chaga.

Além disso, vale ressaltar a inoperância estatal em valorizar e, consequentemente, visibilizar o papel de cuidado feito por mulheres. No mais, o filósofo inglês John Locke destaca, em seu "Contrato Social", que é dever do Estado assegurar os direitos e o bem-estar coletivo. Correlatadamente, apesar da Constituição Federal afirmar atribuições a respeito da igualdade de todos, o que se observa diante do contexto de desvalorização do trabalho parental e doméstico realizado pela figura feminina por causa da desigualdade de gênero, é a falta de eficácia nessa garantia, configurando uma quebra constitucional e, ainda, do Contrato de Locke. Logo, sendo o Estado promotor do bem-estar de todos igualmente, é ilógico colocar a situação da invisibilidade da mulher em segundo plano.

Sendo assim, urgem medidas que visibilizem o trabalho de cuidado feito pela mulher no Brasil, que transcorre da assimetria de gênero e da ineficácia estatal. É indispensável ao Estado oferecer políticas públicas de adesão popular, com a finalidade de acabar a disparidade entre homens e mulheres, tendo esse como um dos meios de atenuar a chaga. Também é importante que o Estado promova a fiscalização das leis existentes, por meio do Poder Executivo, assegurando que sejam efetivadas, a fim de que os direitos sejam devidamente sustentados a todos. Dessa maneira, será possível alcançar o bem-estar social defendido por John Locke, bem como o pleno exercício da Constituição, e uma sociedade equilibrada será construída.

Arthur Sanches Sales

Conforme estudos demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de idosos crescerá drasticamente nas próximas décadas. Nesse contexto, o trabalho de cuidado realizado pelas mulheres é fundamental para acolher essa parcela populacional. Todavia, a invisibilidade e a omissão estatal são desafios que perpetuam o descaso sofirdo por essas trabalhadoras no Brasil. Logo, faz-se imperioso a tomada de medidas que resolvam esse contexto de emergência generalizada.

Sob essa perspectiva, é crucial que a escassez de debates acerca da importância das atividades de assistência seja superado. A esse respeito, a ilustre filósofa Djamila Ribeiro defende que, para atuar em uma situação, deve-se, antes de tudo, tirá-lo da invisibilidade. Entretanto, o panorama nacional destoa do pensamento da autora, já que o alto índice de empregadas domésticas em condições ocupacionais precárias não é enxergado pelo círculo social, de modo que discussões sobre essa questão não sejam priorizadas, dificultando intervenções nesse problema. Então, essa nebulosidade precisa ser exposta para conscientizar a sociedade.

Outrossim, vale ressaltar de que maneira a negligência do Estado fomenta a marginalização das cuidadoras. A partir disso, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman utiliza o termo "Instituição Zumbi" para simbolizar as entidades que não cumprem seu papel previamente estabelecido. Segundo o raciocínio, é possível compreender o Poder Executivo como um exemplo da ideia do expoente da Sociologia, uma vez que a sua função de garantir dignidade profissional a todo não está sendo cumprida em sua totalidade, pois muitas trabalhadoras de acolhimento ainda encontram-se em situações indignas. Por isso, a conduta governamental necessita ser reformulada para assegurar os direitos dessas profissionais.

Portanto, torna-se primordial mitigar a marginalidade do trabalho de cuidado realizado pelo gênero feminino. Dessa forma, o Ministério da Cidadania, enquanto responsável por políticas cidadãs, deve propagar dados e pesquisas que revelem a gravidade do esquecimento sofrido pelas cuidadoras, por meio de plataformas midiáticas de destaque, a fim de atingir o maior contingente possível e conscientizá-lo. Ademais, a coletividade, por intermédio do Ministério Público, precisa cobrar do Governo Federal ações efetivas de proteção ocupacional às empregadas domésticas, com o intuito de promover o labor digno a esses indivíduos. Assim, a acolhida da nova geração de pessoas de terceira idade poderá ser efetiva.

Beatriz Tudella

O filme “Que horas ela volta?”, produzido pela “Globo”, retrata a história de Val, uma mulher que durante toda a sua vida se dedicou a cuidar da família e da casa de seus empregadores. Durante a trama, é revelada a maneira hostil como a personagem é tratada, deixando de receber o pagamento pelo seu trabalho e a valorização pelo seu esforço. Fora do espectro ficcional, a valorização do trabalho de cuidado realizado pela mulher ainda não ocorre de forma eficaz, contribuindo para que a situação permaneça na invisibilidade. Sendo assim, cabe analisar o óbice com foco na desvalorização histórica desse tipo de atividade e na omissão governamental.

Diante desse cenário, é peremptório apontar a herança histórica como causa principal da invisibilidade feminina no que se refere ao trabalho de cuidado. Nesse viés, a obra “Casa Grande e Senzala”, escrita por Gilberto Freire, aborda o Período Colonial brasileiro, no qual as escravas se dedicavam, majoritariamente, à função de cuidar da família dos senhores de engenho, sem receber nenhum tipo de pagamento por essa atividade. Nesse sentido, é lamentável evidenciar que essa estrutura social arcaica ainda perdura no Brasil pós-moderno, visto que, segundo dados do IBGE, a maior parte dos brasileiros que se dedicam ao trabalho de cuidado são mulheres que, ou não recebem pagamento por isso, ou são extremamente mal remuneradas. Desse modo, o fator histórico de construção da sociedade brasileira representa um legado que tem como consequência a invisibilização da figura feminina, sobretudo aquela que se dedica ao cuidado, dificultando a resolução da problemática.

Somado a isso, é fulcral denunciar a postura inerte do Estado brasileiro, que contribui para a manutenção dessa desvalorização na sociedade. Nesse contexto, o filósofo inglês John Locke, participante do movimento contratualista, defende que o governo deve cumprir o “Contrato Social”, ou seja, deve garantir a proteção e a dignidade de toda a sociedade. Contudo, ao estudar a atual conjuntura nacional, evidencia-se uma divergência entre o modelo de governo proposto pelo teórico e a atuação do poder público no país, uma vez que essa esfera de poder não elabora medidas eficientes de apoio às mulheres que trabalham com o cuidado e não destina recursos para que essa parcela social exerça seu papel de forma digna. Assim, é imperioso que as autoridades se mobilizem para mitigar essa mazela social.

Ante o exposto, fica evidente a necessidade de estratégias para atenuar a problemática. Para tanto, urge que o Ministério do Trabalho - pasta do Executivo - elabore, por meio de um projeto de lei, um programa de suporte destinado às mulheres que trabalham com os afazeres domésticos. Esse programa deve destinar verbas, provenientes do Tribunal de Contas da União, à essa parcela populacional, para que sua função seja exercida com a dignidade e o reconhecimento necessários. Espera-se, com essa medida, a tirada do trabalho de cuidado feminino da invisibilidade e, portanto, afastar a figura da mulher de realidades como a do filme “Que horas ela volta?”.

Caroline Oliveira

Na Grécia Antiga, berço das civilizações ocidentais, a mulher era excluída da cidadania ateniense, fato que reflete a marginalização da figura feminina na população da época. Essa herança excludente se perpetuou ao longo dos séculos e exerce considerável influência na sociedade contemporânea, em especial, no que tange à invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil, problemática que se materializa na sobrecarga laboral e na reduzida remuneração. Por essa razão, é preciso discutir os desafios para o enfrentamento da adversidade em questão: a negligência do Estado e a omissão da comunidade.

De início, cabe pontuar que a inoperância do governo, expressa na falta de políticas públicas voltadas à valorização da cuidadora de idosos, por exemplo, constitui um bloqueio ao combate da invisibilidade desse ofício. Sem dúvidas, isso ocorre, pois a escassez de fiscalização em clínicas de repouso da terceira idade para averiguar as condições de trabalho das cuidadoras sedimenta o descaso do Estado em exercer seu papel administrativo, já que o excesso de carga laboral vivenciado por elas ceifa o direito à dignidade humana, previsto no artigo primeiro da Carta Magna de 1988. Sob essa ótica, as condições impróprias de ofício são normalizadas no cotidiano pela inobservância governamental e as mulheres, historicamente segregadas da atenção estatal, são ainda mais invisibilizadas na execução de suas funções. Logo, a ineficiência do poder público dificulta o enfrentamento do problema abordado.

Além disso, vale ressaltar que a omissão da população, ao ignorar a desvalorização salarial de trabalhadoras de cuidado, como o zelo doméstico, solidifica os empecilhos para coibir a invisibilidade dessa temática. De fato, esse cenário ocorre a partir da indiferença social, conduta que despreza as mazelas alheias – consideradas irrizórias –, de modo a alicerçar a carência de notoriedade do ofício, bem como suas defasagens salariais enfrentadas por aquelas que limpam e cozinham, por exemplo. Sob essa perspectiva, além do preconceito de gênero histórico, as mulheres cuidadoras são secundarizadas do olhar social atual, confirmando a citação do romancista Juan Montalvo, para o qual "não há nada mais duro do que a suavidade da indiferença", uma vez que o descaso de remuneração se mantém pela falta de debates sociais acerca do problema. Portanto, a inação coletiva é um desafio.

Em suma, o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil tem como desafios a negligência do Estado e a omissão da coletividade. Para mitigar esses entraves, o Ministério Público deve exigir maior exercício constitucional do Estado, por meio de fiscalizações nas clínicas de repouso – haja vista as cuidadoras vítimas da sobrecarga trabalhista serem alijadas do direito à dignidade –, a fim de conferir maior valorização a essa classe. Ademais, a sociedade deve superar as amarras da indiferença social para combater a falta de notoriedade do cuidado de um grupo vitimado desde a antiga Grécia.

Catharina Ferreira

O trabalho de cuidado se mostra necessário na medida em que é o responsável pelo zelo de crianças, idosos, pessoas com deficiências e afazeres domésticos. Entretanto, nota-se, na comunidade brasileira, a invisibilidade desse serviço e seu protagonismo majoritariamente feminino. Isso ocorre por duas causas principais: o baixo prestígio social estigmatizado a essas tarefas e as convenções de gênero estabelecidas pela sociedade brasileira.

A princípio, o prestígio social de um trabalho é um fator importante para a determinação de seu reconhecimento e remuneração. Nesse raciocínio, atividades de cuidado são estigmatizadas dentro do corpo social como inferiores e descriminalizadas pelo seu baixo nível de escolaridade. Isso acontece, pois com a predominância do capitalismo no ocidente e a Revolução Tecnológica introduzida a partir da 3ª Revolução Industrial no mundo contemporâneo, houve a crescente valorização de serviços de alto grau de especialização e nível acadêmico. Dessa forma, atividades de baixo ou nenhum valor tecnológico, como o trabalho do cuidado ou tarefas domésticas, foram socialmente marginalizadas em escala global.

Além disso, percebe-se a predominância de mulheres na realização de serviços de assistência. Essa é uma realidade que demonstra que as transformações sociais ocorridas no Brasil não foram suficientes para desconstruir convenções de gênero e seus papéis sociais, pois atividades relacionadas ao cuidado e de cunho doméstico são predominantemente associadas a mulheres. Como exemplificação, “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector, retrata esse cenário pela personagem Macuabé, nordestina que trabalha como empregada doméstica no Rio de Janeiro. Descrita ao longo da narrativa como pequena e inviável, ausente de acontecimentos ou importância em sua própria história, Clarice representa, dessa maneira, a invisibilidade e o preconceito da sociedade brasileira pelas mulheres que realizam o trabalho do cuidado e seus desafios.

Portanto, é necessária a aplicação de medidas para o enfrentamento da desvalorização do trabalho de cuidado no Brasil. Para isso, o Governo Executivo Federal deverá realizar ações de combate à desigualdade social sofrida por essa atividade, por meio de políticas de valorização do serviço de assistência, como a validação legal dessa prestação como trabalho remunerado e a obrigatoriedade do pagamento do salário mínimo. Assim, o Brasil se tornará um país que enxerga e prioriza todos os tipos de serviços.

Dandara Amaral

Na canção "Mulheres de Atenas", do músico Chico Buarque, retrata-se o cotidiano subserviente da mulher ateniense em uma sociedade estruturada pelo patriarcado, de modo que a sua existência é resumida à procriação e ao cuidado do lar. Analogamente à música aludida, evidencia-se que tais papéis de gênero continuam presentes no Brasil. Assim, mimetiza-se a invisibilização do ofício de cuidado realizado pela mulher em decorrência da lógica patriarcal e da informalização do trabalho de cuidado.

Diante do exposto, observa-se que as construções de gênero são perpetuadas pelo patriarcado. À vista disso, em consonância com Simone de Beauvoir, escritora francesa, não se nasce mulher, mas se torna uma. Sob essa perspectiva, reforça-se que as relações interpessoais são estruturadas nas funções socioculturais atribuídas aos gêneros masculino, o qual exerce atividades consideradas relevantes para a população, e feminino, o qual, em sua maioria, executa trabalhos imprescindíveis para a manutenção social, mas que são invisibilizados pela lógica patriarcal. Dessa forma, os ofícios de cuidado realizados por mulheres são pouco valorizados e, consequentemente, precarizados.

Em paralelo a isso, nota-se uma relação direta entre informalização do trabalho de cuidado feito por mulheres e sua precarização. Sob esse viés, durante o mandato presidencial do Getúlio Vargas, foi criada a Carteira de Trabalho, documento o qual formalizou e, como consequência, assegurou dignidade às relações trabalhistas. Isso posto, evidencia-se que o não reconhecimento do ato de cuidar de pessoas e do lar como um trabalho que requer esforço, tempo e dedicação vulnerabiliza milhares de mulheres, uma vez que não as garantem suporte financeiro, bem como não contabilizam para as suas aposentadorias.

Depreende-se, portanto, que o patriarcado e a informalização do trabalho de cuidado são problemáticas que carecem de medidas efetivas para serem mitigadas. Nesse sentido, para que haja o enfrentamento constante de tais desafios, é elementar que o Poder Legislativo, aliado ao Ministério do Trabalho, formalize o ofício doméstico exercido por incontáveis brasileiras, por meio de uma lei, a qual reconheça na Carteira de Trabalho tal exercício. Dessa forma, serão assegurados às mulheres os direitos trabalhistas e a redução da precarização do ofício. Ademais, urge que o Ministério das Comunicações promova campanhas, através das redes sociais, a qual fomente o fim da lógica patriarcal. Somente assim, a realidade brasileira será dessemelhante à ateniense.

Francisco Roney Sousa Suriano

A Constituição Federal, promulgada em 1988, foi esboçada com o objetivo de delinear direitos básicos para todos os cidadãos – como condições satisfatórias de trabalho. Contudo, hodiernamente, esse postulado constitucional é deturpado, visto que o contato com a área trabalhista, por meio do trabalho de cuidado realizado por mulheres, se encontra na invisibilidade e não efetivado na sociedade nacional. Acerca disso, para discutir a questão de maneira ampla, hão de ser analisados os seguintes fatores: as desigualdades no acesso à informação e a inobservância governamental.

Em primeiro âmbito, é válido perceber o panorama de assimetria social como fator potencializador da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil. Segundo Ariano Suassuna, ilustre pensador brasileiro, o território nacional está dividido em dois países distintos: o dos privilegiados e o dos despossuídos. Sob essa lógica, o autor faz um alerta a respeito da desigualdade de renda, de oportunidades e de acesso à informação vigente no Brasil. Nesse sentido, parcela da população feminina, majoritariamente jovem e preta, padece frente à carência de informações relacionadas às garantias de assistência previstas para esse setor trabalhista, pois tem dificuldade em obter meios de comunicação, como o aparelho celular, pelo custo elevado. Esse cenário potencializa a invisibilidade do trabalho de cuidado, tendo em vista que a desinformação permite que muitas mulheres fiquem passivas e inativas na busca por seus direitos, ocasionando, consequentemente, explorações de jornadas de trabalho exaustivas, muitas vezes, não remuneradas. Dessa maneira, por não reconhecer a importância da assistência e da regulamentação do trabalho, por exemplo, muitas mulheres assumem trabalhos de cuidado sozinhas e na informalidade, conduta que dá margem à formação de diversos problemas, como desgastes físicos e psicológicos, dificultando, assim, o combate à invisibilidade do trabalho de cuidado. É essencial, então, a difusão de informações sobre a assistência para esse setor laboral.

Outrossim, cabe enfatizar a negligência governamental como um dos principais fatores que viabilizam a invisibilidade do trabalho de cuidado no tecido social. Nesse aspecto, por não investir suficientemente na criação e na implementação de projetos que fiscalizem e promovam assistência para as trabalhadoras de cuidado, o país omite esse impasse do meio comunitário e permite, dessa forma, a continuidade desse infeliz cenário de exploração feminina. Nessa perspectiva, como afirmou o filósofo Gilberto Dimenstein, em sua obra “Cidadão de Papel”, a legislação brasileira é ineficaz, dado que, embora aparente ser completa na teoria, muitas vezes não se concretiza na prática. Prova disso é a escassez de políticas públicas satisfatórias voltadas para a aplicação do Artigo 23 da “Constituição Cidadã”, que garante, entre tantos direitos, condições dignas e satisfatórias de trabalho. Sob esse viés, evidencia-se que a pouca atuação do Estado no que concerne à garantia de condições laborais dignas para as mulheres possibilita, de certa forma, a existência de várias “cidadãs de papel”, no Brasil, uma vez que embora um ambiente de trabalho satisfatório seja um direito constitucional, muitas mulheres sofrem com a falta de assistência ao realizar trabalhos de cuidado. É preciso, pois, como alternativas ao enfrentamento da invisibilidade do labor de cuidado, a reformulação dessa postura estatal.

Portanto, é nítido que o debate sobre o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil é relevante e precisa ser difundido. Para tanto, urge, que as instituições educacionais, a exemplo de escolas e faculdades, promovam, por meio de verbas governamentais, campanhas e palestras em espaços públicos, validando a importância da valorização do trabalho de cuidado e informando as garantias assistenciais desse setor para a sociedade, visando garantir a construção de uma mentalidade crítica na coletividade. Ademais, cabe ao Ministério do Trabalho desenvolver, em parceira com o Ministério da Mulher, fiscalizações em ambientes de trabalho de assistência, aspirando mitigar formas de exploração de laborais de cuidado. Quiçá, nessa vida, tornar-se-á notável a amenização do infortúnio, e a Constituição será cumprida de forma precisa.

Gabriela Gurgel

A filósofa contemporânea Hannah Arendt constata, por meio do conceito denominado “banalidade do mal”, a tendência existente nas sociedades no que tange à naturalização das mazelas presentes na coletividade. Nessa vertente, percebe-se que, na realidade brasileira atual, a proposição teórica mencionada se torna evidente, sobretudo quando são considerados os entraves para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres. Com efeito, hão de ser analisados os principais intensificadores da temática em questão: o machismo estrutural e a omissão estatal.

Diante desse cenário, a persistência de um ideário preconceituoso contra o público feminino potencializa a desvalorização de atividades relacionadas ao cuidado. Nesse viés, cabe citar que durante o Período Colonial, houve a estruturação da família brasileira com valores patriarcais, de modo a haver a restrição do papel social da mulher à reprodução e aos afazeres domésticos. No entanto, apesar do lapso temporal, tais convenções ainda estão presentes no território nacional, haja vista que, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres se dedicariam mais que o dobro de horas semanais, em 2019, em comparação aos homens, às tarefas de cuidado. Nessa linha de raciocínio, atividades desse tipo – que incluem o trabalho com crianças, idosos, e pessoas com deficiência, assim como as demandas domésticas – são comumente vistas como uma obrigação feminina, mas, lamentavelmente, recebem um grau inferior de reconhecimento e importância. Isso se torna ainda mais claro pelo fato de muitas tarefas dessa natureza serem mal pagas ou não remuneradas, o que é extremamente preocupante em um país como o Brasil – o qual apresenta, em sua Constituição Federal de 1988, o direito à igualdade laboral.

Ademais, é imperioso mostrar a postura inerte do Estado brasileiro quanto à tentativa de invisibilização que acomete a problemática. Sob tal ótica, o sociólogo polonês Zigmunt Bauman define como “Instituições Zumbi” aquelas entidades que mantêm suas estruturas vigentes, contudo não cumprem adequadamente seus papéis sociais. Nesse sentido, o aparato estatal nacional pode ser enquadrado na visão baumaniana, tendo em vista que o trabalho do cuidado colocado em prática pelas mulheres é decorrente, em muitos contextos, da intersecção das desigualdades socioeconômicas e étnicas. Dessa forma, enquanto não for combatida a conjuntura precária vivenciada por tantas meninas e mulheres, as quais se encontram, principalmente, em situação de pobreza e de vulnerabilidade, elas continuarão inseridas em um trabalho de cuidado sem o amparo estatal necessário.

Portanto, fazem-se urgentes medidas de enfrentamento aos impasses da temática supracitada. Assim, o Ministério do Trabalho e Emprego deve realizar um registro das principais áreas com presença do trabalho de cuidado. Tal iniciativa será efetivada por intermédio de profissionais do IBGE, os quais, em parceria com o Poder Executivo, irão às residências onde as mulheres exercem suas atividades e organizarão um auxílio financeiro para ajudá-las a garantir suas dignidades enquanto cidadão. Isso poderá proporcionar melhores perspectivas de vida para o público feminino, de maneira a fragilizar o machismo e ampliar a igualdade.

Georgia Carvalho

A obra literária “A vida que ninguém vê”, de autoria de Eliane Brum, retrata os mais diversos personagens sociais (sobretudo as mulheres domésticas) que são invisíveis para o povo e para o próprio Estado. De maneira análoga à narrativa, a desvalorização das pessoas encarregadas do cuidado do lar e da família é um desafio enfrentado no Brasil contemporâneo, uma vez que não há um devido reconhecimento da importância dessas atividades para a economia do país. Nesse sentido, tanto a perpetuação do imaginário patriarcal quanto o descaso do governo para com essa parcela da sociedade é responsável pela invisibilidade do trabalho do cuidado realizado por mulheres no país brasileiro.

Em primeiro lugar, é impossível desvincular o contexto histórico de formação dos papéis sociais da permanente conjuntura que submete a mulher ao serviço doméstico. Desde os primórdios da humanidade - no período dos homens da caverna, por exemplo - o sexo masculino era designado às tarefas de caça, e o sexo feminino, enquanto isso, deveria cuidar dos filhos e dos afazeres do lar. A despeito de todo o progresso científico e humanitário, esse imaginário patriarcal ainda vigora no Brasil da atualidade, de maneira que as convenções de gênero continuam delegando o trabalho do cuidado, majoritariamente, às mulheres. Nesse contexto, as meninas são, desde pequenas, ensinadas a ajudar nos serviços de casa, sendo que, em comunidades mais pobres, essa já é uma responsabilidade de fato para elas. Isso se deve à normatização do papel atribuído à mulher na sociedade - reclusa em casa para ordenar o lar e para assistir a família -, que ocorreu de tal forma que hoje o trabalho de cuidado é invisível aos olhos do corpo social e, por conseguinte, desvalorizado por ele.

Outrossim, o descaso do governo frente à economia do cuidado também é um empecilho para o enfrentamento da invisibilidade do serviço doméstico realizado pela mulher no Brasil. Tendo em vista a má e, por vezes, ausente remuneração do trabalho de assistência, é evidente que o Estado, bem como o corpo social, não reconhece a necessidade desse serviço para a sociedade. Sendo assim, cria-se um cenário de desvalorização das atividades de cuidado, já que nem mesmo o governo atribui um valor digno às mulheres que se ocupam dos afazeres domésticos. Sob essa óptica, é nítida a promoção da invisibilidade das prestadoras de cuidado da casa e da família pelo próprio Estado - que não garante o reconhecimento e um salário justo a essas mulheres.

Portanto, o Ministério da Economia - responsável pelas políticas fiscais - deve, por meio de um reajuste de verbas, destinar um auxílio financeiro às trabalhadoras de cuidado, a fim de dar reconhecimento ao valor dos serviços domésticos. Além disso, a mídia deve promover uma campanha de desconstrução dos papéis de gênero, de modo que a atuação dessas mulheres não seja mais por mera convenção social. Com isso, dar-se-á visibilidade a essas personagens sociais retratadas por Eliane Brum.

Giovanna Fabia de Freitas Heitz

Em sua música “Podres poderes”, Caetano Veloso critica a política da ordem vigente no contexto pós- ditadura e expressa sua angústia diante das indefinições do futuro do país, advinda da conduta passiva de grande parcela da sociedade brasileira da época frente a problemas sociais. Infaustamente, a composição ainda é uma realidade no cenário contemporâneo, ao observar a postura inerte da população no que concerne aos desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil, de modo que a habitualidade diante desse quadro agrava tal problemática. Dessa maneira, torna-se premente analisar os principas propulsores desse problema: a falta de representatividade política e o ideal de produtividade.

Sob esse viés, é lícito postular que a carência representativa no meio político é um fator preponderante para a ocorrência desse imbróglio. Nesse sentido, o escritor José Saramago afirma tropologicamente, em sua obra literária “Ensaio sobre a cegueira”, que "um governo de cegos a quererem governar cegos é o nada a pretender organizar o nada”. Nesse raciocínio, a “cegueira” metafórica corresponde à conduta invisibilizadora dos representantes políticos acerca de problemas sociais, tendo em vista que parcela desses representantes é pautada em uma concepção patriarcal – ou seja, valorização do homem em detrimento da mulher – e realiza ações que são meramente mecanismos de autopromoção de seus interesses. À vista disso, tal postura indiferente dos governantes corrobora uma ordem vigente que não atende às necessidades da população feminina, que é majoritária no país, e uma invisibilização acerca do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres, ocasionando uma carência resolutiva de ações que visem à valorização desse tipo de trabalho. Dessa maneira, é notória a necessidade de uma ordem vigente representativa para a resolução desse cenário.

Ademais, é válido ressaltar que o ideário produtivo potencializa essa adversidade. Isso ocorre porque, com o mandato do ex-presidente Vargas, difundiu-se a perspectiva de trabalho e cidadania como sinônimos, ou seja, a ideia de trabalhar é equivalente à ideia de ter cidadania, de modo a criar um ideal produtivo que perpetua até a atualidade no país. Sob essa reflexão, tal ideal de produtividade – advindo de Vargas e enraizado na população – tem como consequência a desvalorização e invisibilização de atividades essenciais consideradas não produtivas, a exemplo do trabalho de cuidado, o qual não é remunerado. Evidencia-se, portanto, que o ideário produtivo corrobora essa problemática.

Mediante o exposto, são imperiosas resoluções acerca desse quadro. Para isso, o corpo governamental deverá atuar juntamente ao Ministério do Trabalho – órgão responsável pela proteção dos direitos trabalhistas e promoção de políticas públicas voltados para o trabalho – na criação de projetos como remuneração por parte do Estado às mulheres submetidas ao trabalho de cuidado e como campanhas informativas acerca da importância dessas atividades de cuidado para o desenvolvimento do país. Tais ações poderão ser realizadas por intermédio do Plano Nacional de Visibilização do Trabalho de cuidado, e terão como finalidade a visibilização e, consequentemente, a valorização de um serviço imperioso para o país como o trabalho de cuidado. Assim, atenuar-se-á a questão dos desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil, e a postura passiva – retratada em "Podres poderes" – da população não será mais uma realidade brasileira.

Helena Moreira

A dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos da Constituição Federal, proposta no Artigo 1°. Esse fundamento pode ser garantido através do exercício do trabalho - que contribui para o desenvolvimento do indivíduo ao fornecê-lo condições para se sustentar na sociedade. Contudo, apesar de ser fundamento constitucional, percebe-se que, na realidade atual do país, a dignidade humana é violada pela invisibilização do trabalho de cuidado realizado por mulheres. Nesse prisma, deve-se analisar como a desvalorização do trabalho manual e a perpetuação do machismo são desafios para enfrentar essa realidade contrária à Constituição.

A princípio, cabe salientar que há uma influência cultural que explica a desvalorização do trabalho manual. Na Grécia Antiga, o trabalho braçal era considerado inferior porque os mais ricos - detentores de melhores condições de vida - eram pensadores, ou seja, eram aqueles que exerciam trabalho mental. Partindo da compreensão de que a história das sociedades ocidentais, como o Brasil, é baseada na cultura grega, é inevitável dizer que a desvalorização dos serviços braçais - como o trabalho de cuidado realizado por mulheres que limpam, lavam, cozinham e cuidam de crianças e idosos - é resultado de uma cultura elitista enraizada nas sociedades do Ocidente. Dessa forma, mudar essa realidade estrutural é uma tarefa complexa, já que envolve uma questão cultural, porém é uma ação necessária para que o elitismo não favoreça a desqualificação de certos tipos de trabalho.

Outrossim, a perpetuação do machismo é uma arma que invibiliza o valor social das mulheres. Foucault - filósofo francês - propôs os conceitos de silenciamento e normalização, explicando que a sociedade silencia alguns assuntos para perpetuar organizações de poder e normaliza problemas sociais quando eles se tornam repetitivos. Fazendo um paralelo com os estudos do filósofo, entende-se que o machismo foi normalizado pela sociedade devido a sua perpetuação ao longo da história e silenciado pelo patriarcado que queria manter-se no poder. Um exemplo pode ser visto quando o voto foi concedido às mulheres, que, de início, precisavam ser casadas com um homem para votar. Ou seja, até num pequeno indício de liberdade, as mulheres tiveram seu valor social silenciado pelo machismo, realidade que está - negativamente - normalizada na sociedade atual.

Infere-se, portanto, que modificar essa realidade discriminatória e opressora é missão da sociedade. Logo, cabe ao Governo - administrador do país - financiar as escolas para criar projetos de valorização a todos os tipos de trabalho e às mulheres, através de palestras, a fim de romper com o elitismo e o machismo que desconsideram as cuidadoras brasileiras. Talvez, assim, as mulheres não serão mais invisibilizadas e terão sua dignidade humana garantida.

Heloísa Vitória Silva

Na obra “Utopia”, de Thomas More, é retratada uma sociedade perfeita e em harmonia, a qual é livre de conflitos e mazelas. Todavia, fora de ficção, a realidade contemporânea está distante disso, haja vista os desafios para enfrentar a invisibilidade do trabalho de cuidado exercido pela mulher no Brasil. Por certo, a negligência governamental e a desigualdade social são fatores que favorecem esse quadro.

Percebe-se, a princípio, que o descaso estatal possui íntima relação com o revés. Nessa ótica, de acordo com o filósofo John Locke, configura-se como um rompimento do Contrato Social, já que o Estado não cumpre com sua função de garantir que todos desfrutem de seus direitos. Assim, devido à débil ação do Poder Público e à insuficiência de legislações, os impasses para acabar com a invisibilidade vivenciada por aquelas que realizam o trabalho de cuidadoras, sejam elas babás, donas de casa ou empregadas domésticas, têm crescido cada vez mais no Brasil. Dessa forma, é inadmissível que esse cenário continue a perdurar.

Ressalta-se, ademais, a situação de vulnerabilidade em que diversas cuidadoras estão inseridas como impulsionadora do problema. Nesse contexto, segundo o escritor Ariano Suassuna, o Brasil é dividido em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos. Sob esse viés, grande parte dessas mulheres vivem em condições precárias, por isso, tendem a aceitar qualquer coisa e realizam até mesmo trabalhos sem remuneração; o que faz com que as dificuldades para enfrentar essa problemática aumentem e tornem essas mulheres cada dia mais invisíveis perante o corpo social. Destarte, é imprescindível que haja mudança.

Infere-se, portanto, a necessidade de combater essa problemática no Brasil. Logo, cabe ao Governo, como Ministério do Trabalho, desenvolver leis mais rígidas e projetos sociais, por meio de petições e da criação da campanha “Cuidar também é trabalhar”, a fim de vencer os impasses enfrentados pelas cidadãs que exercem a função de cuidadoras e garantir que passem a ser enxergadas e não sofram mais com a invisibilidade e a desvalorização. Por conseguinte, uma sociedade mais próxima da que é citada em “Utopia” será consolidada.

Igor Castagnetti

A sociedade brasileira exclui, segrega, silencia, invalida e interdita as mulheres e as suas conquistas. Nesse sentido, a universalização do acesso à cidadania é o principal desafio que precisa ser enfrentado para que a invisibilidade do trabalho de cuidado feminino, no Brasil, seja superada. Desse modo, não só é imprescindível compreender esse nocivo processo de exclusão, como também é crucial promover uma mudança atitudinal significativa.

Em primeiro lugar, de acordo com o filósofo italiano Norberto Bobbio, em sua obra "Teoria Geral da Política", todos os sujeitos pertencem a uma mesma categoria de cidadão, haja vista que seus direitos são igualmente relevantes para o Estado. No entanto, no Brasil, há um pensamento retrógrado e extremamente equivocado – manifestado por uma parcela significativa da população – de que o cuidado dos filhos e da casa é uma tarefa exclusivamente feminina. A exemplo disso, meninos são educados para serem esportistas, visto que recebem bolas de futebol de presente, e meninas são instruídas, desde muito cedo, a realizarem tarefas domésticas e cuidarem de bebês, uma vez que os presentes que elas recebem são bonecos e panelas de plástico. Dessa forma, torna-se evidente que a invisibilidade do trabalho de cuidado feminino é uma consequência do impedimento da universalização da cidadania.

Além disso, outro grande desafio a ser superado para a resolução dessa problemática é a mudança comportamental. Nesse viés, conforme o pensamento do psicólogo Albert Bandura, criador da "Teoria Social Cognitiva", a imitação é uma das principais formas de aprendizado e ocorre por intermédio da prévia observação da realidade. Dito isso, para que o trabalho de cuidado realizado pelas mulheres tenha a devida visibilidade, é indispensável que todos manifestem a conduta de reconhecer a importância dessa tarefa e do compartilhamento dela: os homens devem dividir igualmente o trabalho de cuidado.

Posto isso, compete ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, com o intuito de garantir a universalização da cidadania e a modificação atitudinal necessária, a execução do programa "Visibilidade do Trabalho de Cuidado Feminino”. Por meio dessa iniciativa, serão implementadas oficinas com famílias, em centros comunitários municipais, ministradas por psicólogas que abordarão os seguintes eixos temáticos: reflexão sobre estereótipos de gênero, compartilhamento de tarefas de cuidados com os homens, incentivo ao protagonismo social feminino. Ademais, paralelamente, a visibilidade do trabalho de cuidado feminino será alvo de uma campanha publicitária. Assim, a cidadania será universalizada e a invisibilidade superada.

Indira Morgana de Araújo Silva

A Constituição Cidadã traz, entre suas diretrizes legais, a igualdade entre homens e mulheres, nas diversas áreas, o que inclui a esfera laboral. No entanto, na prática, a realidade brasileira tem sido diferente do que propõe a lei, sobretudo, no que se refere aos desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado, em grande parte, realizado pelas mulheres. Logo, debater sobre os principais fatores relacionados à problemática — raiz cultural e negligência estatal — é indispensável para a reversão do atual quadro no Brasil.

De início, é válido salientar que os impasses relativos à ausente visibilidade do trabalho feminino de cuidados decorre de padrões culturais construídos ao longo dos séculos. Nesse sentido, a sociedade brasileira naturalizou as atribuições de zelo como o outro de trabalho doméstico, fundamentalmente, às mulheres, como se tais atividades estivessem associadas às suas características biológicas. Entretanto, segundo o que afirma a socióloga Simone de Beauvoir, em seu livro “O Segundo Sexo”: “Não se nasce mulher, torna-se”. Sob a ótica “beauvoiana”, percebe-se, então, que aquilo que vem a ser tido do escopo feminino, por exemplo, os cuidados com o próximo e com o lar às mulheres e não aos homens. Em consequência do exposto, dificulta-se a valorização desse tipo de labor em termos legais e remunerativos, pois, já que é “natural”, em consequência, para o senso comum, não haveria motivos para reconhecimentos formais. Portanto, corrigir as visões deturpadas não apenas de contradizer a Constituição de 88, como também é essencial para o enfrentamento do problema no país.

Ademais, é imprescindível destacar o falho papel do Estado quanto ao endosso da invisibilidade do mundo laboral das cuidadoras da nação, principalmente, a partir de um olhar socioeconômico. Isso acontece, porque, conforme apontava o sociólogo brasileiro Florestan Fernandes, desde o final da escravatura, no Brasil, pouco foi feito pelo governo no que diz respeito à inserção do negro na sociedade; sendo, naquele contexto, os meninos pretos destinados aos trabalhos nas feiras e as meninas pretas, para o serviço doméstico. Assim, como de outrora até os dias atuais, pouco foi feito pelo poder público, para modificar tal padrão, é esta última a maioria a qual permanece como empregadas domésticas ainda pouco valorizadas, cuidadoras mal remuneradas e donas de casa com pouca qualificação educacional e profissional. Dessarte, gerar mais benefícios legais a esse público é medida incontroversa para reverter o cunho de desigualdade de etnia e de classe relacionadas à questão.

Destarte, para enfrentar a invisibilidade do trabalho feminino de cuidado, algumas ações devem ser adotadas. Dessa forma, o Poder Legislativo, na figura das deputadas (estaduais e federais) e das senadoras, dada a sua representatividade do coletivo feminino, deve difundir informações e ampliar direitos às cuidadoras de pessoas e de lares. Isso pode ser feito através do desenvolvimento de projetos de lei responsáveis por criar campanhas modificadoras das construções sociais de gênero e por meio da elaboração de emendas constitucionais (inclusive para a PEC das domésticas). Com tais atitudes, objetiva-se corrigir desproporcionalidade de gênero no desempenho das referidas atividades, bem como, aumentar a visibilidade e as benesses legais às mulheres pretas cuidadoras, reduzindo-se, consequentemente, as desigualdades ligadas ao tema.

Isabelle Vitória

Em sua famosa composição “Mulheres de Atenas”, Chico Buarque retrata, de maneira subjetiva, as nuances socioculturais que permeiam o cotidiano das mulheres atenienses, que vivem em estado de subserviência e são reduzidas à função de cuidar da casa e da família. Embora seja de caráter literário, a referência da obra é perceptível na atual conjuntura brasileira, na medida em que os obstáculos para o combate à invisibilidade do trabalho de cuidado feito por mulheres no país são irrefutáveis. À vista de tal panorama, são evidentes os malefícios da exploração do trabalho de cuidado como profissão e da manutenção das convenções de gênero.

Diante desse cenário, a persistência de padrões exploradores da condição da mulher como cuidadora é, de fato, potencializadora da problemática. Nesse sentido, no filme brasileiro “Que Horas Ela Volta?” – protagonizado por Regina Cazé – é retratada a dura trajetória de uma empregada doméstica à qual são delegados todos os afazeres da casa, com baixa remuneração e descaso pelos patrões. Apesar de ser ficcional, a verossimilhança da obra se revela inegável, uma vez que, no Brasil, inúmeras mulheres enfrentam diariamente a exploração de seus trabalhos como cuidadoras, sendo negligenciadas, de modo majoritário, devido a fatores como etnia e classe social, o que torna indiscutível a vulnerabilização de minorias nesse contexto. Por conseguinte, a discussão acerca das implicações sociais dessa invisibilidade na qualidade de vida das mulheres é imprescindível.

Além disso, cabe ressaltar que tal debate evidencia uma questão mais complexa: a manutenção dos papeis de gênero convencionados socialmente. Frente a um contexto multifacetado de opressões de gênero, a filósofa existencialista Simone de Beauvoir salienta, em seus estudos, que a mulher já nasce com características socialmente pré-estabelecidas para ela, precisando lutar para sua emancipação enquanto indivíduo. Nessa lógica, o pensamento de Beauvoir é institucionalizado no Brasil devido, principalmente, à carência de valorização da figura feminina e à constante redução da mulher à função de servir, cuidar e procriar, perpetuando, assim, inegáveis opressões. Dessa forma, a busca pela valorização feminina para além do cuidado com o lar e da condição de cuidadora é indispensável.

Portanto, a invisibilidade do trabalho de cuidado feminino no país é incontestável. Logo, o Ministério da Economia, responsável pela administração do erário brasileiro, deve intensificar a ação de políticas públicas voltadas a esse grupo social. Isso ocorrerá por meio do redirecionamento de verbas para a criação de auxílios financeiros a essas mulheres, visto que sofrem com baixa remuneração, a fim de aprimorar o trabalho de cuidado como profissão. Ademais, cabe ao Ministério das Comunicações, encarregado das propagandas nacionais, divulgar a importância da valorização feminina. Tal ação ocorrerá mediante a elaboração de conteúdos audiovisuais – como comerciais de televisão – que mostrem a realidade da mulher como cuidadora, os quais serão exibidos durante programas de alta audiência, tais como intervalos de novelas e jornais, para sensibilizar a população. Assim, as mulheres brasileiras não serão um reflexo das “Mulheres de Atenas” de Chico Buarque, e o Brasil será uma nação mais próspera e justa.

João Pedro

A rigidez hierárquica da sociedade colonial brasileira, a qual pode ser designada como um exemplo cruel de um sistema patriarcal, manteve as mulheres – sobretudo as escravizadas – sob o domínio de sérios aparatos repressivos e impôs condições de trabalho bastante desgastantes. Nesse sentido, ainda que essas estruturas tenham sido superadas, o legado histórico é evidente, à medida que a precarização da mulher em trabalhos de cuidado edifica um quadro de invisibilidade, reproduzindo o horror do passado. Esse cenário nefasto ocorre não só em razão da prevalência do desamparo governamental, mas também em virtude da desvalorização humana. Logo, é fundamental a discussão dessa problemática, a fim de propor itinerários para o seu enfrentamento.

É relevante enfatizar, precipuamente, que a negligência estatal se caracteriza como um grande desafio para o enfrentamento da invisibilidade feminina em tarefas de acompanhamento doméstico, visto que há um reduzido empenho em aplicar os dispositivos jurídicos pertinentes. Acerca disso, a Constituição Brasileira de 1988, promulgada para a manutenção do bem-estar social, assegura a inviolabilidade da igualdade e a assistência aos desamparados, como direitos fundamentais e objetivos fundamentais. Entretanto, embora estabelecida de forma simbólica e legítima, é notória a sua fragilidade, haja vista que, infelizmente, existe uma nítida discrepância de gênero na execução de trabalhos de cuidado, e as mulheres permanecem violentadas pela falsa atribuição popular e tradicional de que são, naturalmente, responsáveis por trabalhos domésticos e assistenciais. Desse modo, é importante lutar pela materialização de regalias consideravelmente teóricas, para que a invisibilidade feminina destacada possa ser atenuada.

Outrossim, compete abordar que, no que se refere aos trabalhos de cuidado desempenhados por mulheres, o desprezo humanitário crescente, inerente ao estágio capitalista atual, estende a disseminação do óbice. Nesse contexto, Franz Kafka, em sua obra emblemática "Um Artista da Fome", apresenta a narrativa de um homem faminto cuja habilidade é jejuar por longos períodos, valendo-se da metáfora de que nunca encontrou um alimento que saciasse a sua fome. Com esse desfecho nada banal, o artista é aprisionado em uma jaula e morre de inanição, figurando uma total animalização. Sob esse viés, por não receberem reconhecimento necessário e terem que conviver, diariamente, com a humilhação de seus chefes, muitas mulheres tendem a sucumbir a coerção sistemática - simbolizada, no conto, pela jaula. Assim, com a concepção instituída de que há uma ampla desvalorização humana em detrimento da falta de suporte governamental, o qual tem íntima relação com o avanço das desigualdades propiciadas pelo capitalismo, é urgente a avaliação desse panorama.

Depreende-se, portanto, que a carência de enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher precisa ser, decisivamente, estudada no âmbito político. Para tal, faz-se imprescindível que o Ministério das Mulheres - pasta executiva encarregada de atenuar as desigualdades de gênero e a invisibilidade feminina - promova a formalização dos trabalhos de cuidado, por meio dos suportes digitais atrelados às páginas virtuais do governo e do apoio a Projetos de Emendas Constitucionais que assegurem uma remuneração (no mínimo) assistencial, com o intuito de facilitar o mapeamento dessas atividades laborais e, consequentemente, de valorizar o papel da mulher na execução delas. Sem abrir margem para o desprezo da mulher nos locais de trabalho e mitigando a arbitrariedade dos seus empregadores, será possível suplantar a herança patriarcal vigente.

Karoline Soares

O filme “Como você consegue?” explora as transformações que envolvem a figura feminina durante a chegada da maternidade e o gerenciamento das tarefas domésticas. Semelhante a obra cinematográfica, no atual contexto social brasileiro, observam-se desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres relacionados às configurações de gênero historicamente construídas e a inadequação da legislação trabalhista do país. Urge, então, a modificação de tal conjuntura, tendo em vista a necessidade de acompanhar as mudanças sociais ocorridas nos últimos anos.

De início, é válido elencar o processo de construção dos parâmetros de gênero que ainda permeiam a sociedade brasileira. Nesse sentido, no período da República Velha e do coronelismo, as ideias patriarcalistas, que atribuem aos homens os papéis de chefia e de destaque, foram fortalecidas e conferiram as mulheres uma postura de subordinação, acompanhada da responsabilidade reprodutiva e da organização domiciliar, estrutura abordada no filme “Como você consegue?” e que, além de ter sido reproduzida por muitos anos, foi transferida às gerações futuras. Sob esse viés, apesar das diversas mudanças sociais que incluem a participação da mulher no mercado de trabalho formal e a progressiva redução da taxa de fecundidade, ainda existem resquícios dos paradigmas históricos, que se manifestam por meio da permanente associação do ideal de cuidado à figura feminina, do insuficiente e reconhecimento do assistencialismo das mulheres como forma de trabalho e da contínua necessidade de reafirmação dos direitos conquistados. Dessa forma, é possível estabelecer a parcela de participação da cadeia social na invisibilização dos serviços realizados pelas mulheres.

Ademais, não há uma especificidade legislativa que reconheça o trabalho de cuidado feito pela população feminina dentro dos padrões de formalidade. Nesse ponto, ainda que a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) tenha ampliado e normatizado os direitos dos trabalhadores brasileiros, há uma incoerência no que diz respeito à ausência de uma lei específica sobre o trabalho das chamadas “donas de casa” e sobre a garantia de sua cidadania fato que reverbera seus efeitos pelo elevado contingente de mulheres que desempenham funções de assistência com pouca ou nenhuma remuneração, ficando à margem dos benefícios promovidos pela admissão em cargos formais. Dessa maneira, faz-se necessária uma reorganização do complexo legislativo nacional.

Logo, torna-se evidente a necessidade da adoção de medidas que visem a minimização dos desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado desempenhado pelas mulheres no Brasil. A partir disso, o governo, como principal responsável pela manutenção do bem-estar dos brasileiros, junto aos complexos midiáticos, deve debater sobre o tema, por meio da criação de campanhas publicitárias sobre o essencialismo dos serviços feitos pelas mulheres, com o intuito de estimular a sociedade a dar mais atenção ao tema.

Letícia Moraes

São inegáveis os desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil. A obra literária "Orgulho e Preconceito", de Jane Austen, retrata o desafio da Sra. Bennet de casar as cinco filhas. Fora da ficção, observa-se semelhança entre a Sra. Bennet e a sociedade, a qual associa o casamento e o cuidado familiar ao sucesso feminino. Todavia, nota-se a falta de valorização, que gera invisibilidade, ao trabalho de cuidado realizado pela mulher. Portanto, é imprescindivel verificar os motivos que impedem a solução do problema.

Em primeiro lugar, há de se ressaltar a omissão governamental diante da invisibilidade do trabalho de cuidado feito pela mulher. Consoante sociólogo Thomas Hobbes, o Estado deve garantir o bem-estar social. Entretanto, a ausência de valorização do trabalho de cuidado feito pela mulher contraria o pensamento de Hobbes. Nesse contexto, 75% do trabalho de cuidado não remunerado é realizado por mulheres. Dessa maneira, as mulheres têm a qualidade de vida privada ou prejudicada, uma vez que não há programas governamentais os quais garantam segurança financeira para as mulheres que deixam o trabalho remunerado para cuidar dos entes. Sendo assim, a falta de apoio governamental corrompe o bem-estar social.

Em segundo lugar, sabe-se que a sociedade contribui para a ausência de valorização do trabalho de cuidado realizado pela mulher. Nessa perspectiva, a história brasileira apresenta valores e percepções sociais enraizadas em relação ao trabalho feminino. Desse modo, a imagem da mulher caracterizou-se como reprodutora e cuidadora, devido ao passado no qual a mulher foi inferiorizada. Paralelamente, na atualidade, a ‹perpetuação de tal imagem referente à mulher impediu a valorização e o reconhecimento do trabalho de cuidado realizado pela mulher, formando, assim, uma sociedade baseada no preconceito e na discriminação de gênero.

Logo, para superar os desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil, cabe ao poder público, em parceria com o Ministério da Família, promover a valorização do trabalho feminino de cuidado. Dessa forma, por meio de campanhas na mídia nacional que sensibilizem a população, bem como pela promulgação de projetos de apoio financeiro destinados às mulheres que saem do trabalho formal para realizar o trabalho de cuidado, tem-se o intuito de mitigar o legado histórico de preconceito e de garantir o devido valor do trabalho de cuidado feito pelas mulheres no Brasil. Posto isto, espera-se assegurar a importância do trabalho de cuidado feito pela mulher e superar o cenário mostrado por Jane Austen.

Letícia Vicente da Silva

Como símbolo da discriminação feminina no Brasil, o papel social da mulher, originado e consolidado na colonização portuguesa, é caracterizado pelo trabalho, exclusivamente, doméstico, haja vista que a escravização de indígenas e africanas restringiu as suas funções ao laliar do lar – como cozinheiras, faxineiras e até cuidadoras de crianças e senhores de engenho. Nesse contexto, é válido ressaltar que, embora não seja um tópico de constante discussão, o serviço das mulheres, especificamente o de cuidar de outras pessoas, é invisibilizado pela desvalorização e pela invisibilidade recebidas da sociedade, sendo uma marca do desafio enfrentado por essa minoria cotidianamente. Ademais, torna-se viável relacionar essa complicação à perpetuação de valores preconceituosos e à precarização dessa atividade laboral.

Nessa perspectiva, é possível citar que a criação de estereótipos agrava a permanência de raízes estruturais, tradicionalmente, discriminatórias, uma vez que a mulher se torna uma figura funcional padronizada. Sob esse viés, como afirma a escritora contemporânea Chimamanda Adiche, grupos minoritários são marginalizados pelo corpo social devido às características pré-estabelecidas sobre eles, de forma que a imagem feminina seja um exemplo dessa situação ao ser relacionada, constantemente, ao trabalho de cuidado com uma conotação social negativa. Nessa conjuntura, é perceptível inferir que, analogamente à teoria de Chimamanda, a associação das mulheres ao cuidado, comunitário ou doméstico, é histórico, cultural e literário, como retratado na obra de Letícia Wischezavi, “A casa das sete mulheres” – que conta os 15 anos da Revolução Farroupilha pela visão de 7 mulheres destinadas a cuidar das feridas -, servindo de exemplo para o reforço de estereótipos femininos nos diversos âmbitos sociais, principalmente, no laboral.

Outrossim, a precarização do trabalho de cuidado realizado pela mulher brasileira é um dos inúmeros desafios que essas profissionais enfrentam diariamente, sendo um modo de invisibilização a atuação no mercado profissional. Sob essa ótica, segundo o sociólogo Ricardo Antunes, a sociedade atual possui uma tendência de precarizar as atividades laborais, influenciada pela bolha ideológica que a isola no comportamento capitalista de luta desigual frequente. Nesse prisma, pode-se concluir que, em consonância com o pensamento de Antunes, um grande desafio para quem vive esse exercício trabalhista é a desvalorização, já que, além das más remunerações financeiras e sociais, há o agravante da desigualdade de gênero que, historicamente, é uma pauta em discussão para erradicação.

Portanto, é indubitável constatar que medidas são necessárias para corrigir essa problemática. Assim, é imprescindível que o Ministério do Trabalho – órgão governamental responsável pela garantia de direitos – promova por meio de incentivos fiscais, programas de fiscalização das garantias trabalhistas das mulheres cuidadoras, a fim de diminuir os desafios enfrentados por essas profissionais cotidianamente. Paralelamente, é dever da mídia – máximo canal de informações da atualidade – viabilizar, por intermédio de comerciais televisivos, campanhas de conscientização sobre o papel da mulher na sociedade, com o intuito de eliminar estereótipos associados às funções exercidas por ela. Dessa forma, será possível uma maior visibilidade do trabalho de cuidado e das múltiplas atividades que uma mulher exerce.

Lídia Resende

"Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação." Na música "Que país é este?", da banda Legião Urbana, há a denúncia acerca de diversos problemas sociais. Na realidade brasileira, isso pode ser observado na medida em que a indiligência governamental e o silenciamento midiático perpetuam-se como desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres. Nesse sentido, faz-se imprescindível remediar esse imbróglio em prol da plena harmonia social.

Diante disso, em uma primeira análise, é importante pontuar o dever da máquina pública na garantia de direitos ao cidadão. De acordo com o jornalista Gilberto Dimenstein, em seu livro "O Cidadão de Papel", o Brasil é marcado pela não aplicação prática dos mecanismos legais – como a Constituição de 1988 – e pela cidadania apenas no campo teórico. Sob esse viés, percebe-se que a postura estatal é de descaso no que se refere às atividades laborais de cuidado, realizadas, sobretudo, pelas mulheres, uma vez que essa temática é deixada em último plano nas discussões e decisões políticas. Dessa forma, ao não regulamentar esse tipo de atividade, o Estado fomenta uma cultura de invisibilização das atividades domésticas. Assim, esse cenário se perpetua no Brasil, e as mulheres, por serem socialmente pressionadas a priorizarem os cuidados com a família e o lar, muitas vezes perdem importantes oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional.

Além disso, é válido perceber o silenciamento midiático como fator potencializador da problemática em debate. Segundo o filósofo Pierre Bourdieu, o que foi criado como instrumento da democracia não deve ser utilizado como mecanismo de opressão. Nesse contexto, devido ao desprezo dado pelos canais midiáticos no que se refere ao trabalho invisível realizado pelas mulheres – o que pode ser observado na ausência da abordagem desse tema em novelas, propagandas e notícias – os cidadãos brasileiros, condicionados a refletir as posturas da mídia, passam a ignorar esse tópico. Dessa maneira, e somado à desinformação vigente no Brasil, essa temática não recebe a devida atenção. Por conseguinte, a anulação das mulheres em prol do bem-estar dos familiares e da casa é, infelizmente, normalizada.

Portanto, são notórios os fatores que alimentam a árdua realidade brasileira no que tange o trabalho invisível realizado pelas mulheres. O Governo Federal deve, pois, atuar na conscientização da população, por meio da criação de campanhas informativas, que serão veiculadas nos meios de comunicação de grande abrangência, como os canais televisivos. Essa ação terá como finalidade chamar atenção da sociedade para o problema em questão. Ademais, cabe à mídia, no papel de principal formadora de opinião, atuar na mudança do comportamento social, por meio da inserção dessa temática em novelas e programas, com o fito de incentivar o pensamento crítico da população a respeito da sobrecarga feminina, de forma que esse assunto ganhe relevância nacional e a "cidadania aparente" abordada por Dimenstein seja superada.

Lílian Carvalho

No período escravocrata brasileiro, as mulheres eram as principais exploradas no que diz respeito aos trabalhos domésticos e aos cuidados das crianças, algumas até com a função de amamentação, como as amas de leite. No Brasil contemporâneo, apesar do tempo decorrido, o presente se assemelha ao passado, visto que há um legado histórico, o qual mantém a mulher nesse ciclo de exploração e invisibilidade do seu trabalho de cuidado. Nesse contexto, os principais desafios que dificultam o enfrentamento desse problema é a mentalidade patriarcal e os valores capitalistas.

Diante desse cenário, nota-se a herança patriarcal como uma potencializadora do problema. Isso acontece, porque há um machismo estrutural no país, o qual contribui para a errônea ideia de que os serviços de cuidado devem ser prioritariamente das mulheres. Tal estigma baseia-se em estereótipos sociais que as caracterizam como mais "jeitosas", "sensíveis" e "cuidadosas", como se fossem características inatas ao grupo feminino, quando na verdade são atribuições que podem e devem ser ensinadas. Nesse cenário, vê-se na prática o conceito de "violência simbólica", do sociólogo Pierre Bourdieu, o qual defende que atos violentos podem acontecer sem agressão física, ocorrendo por meio de ações que agridem a honra, o prestígio e o reconhecimento. Nessa perspectiva, a invisibilidade do trabalho de cuidadora violenta diariamente as mulheres que não têm seus esforços reconhecidos, sendo muitas vezes discriminadas em suas funções, assim como os escravos do período colonial. Logo, é preciso desconstruir a visão patriarcal.

Além disso, a mentalidade capitalista é outro desafio. É inquestionável que a sociedade hoje se move em torno de produtividade e resultados, de preferência, calculáveis, tendo como base a priorização do dinheiro em prejuízo da vida. Nessa lógica de mercado, as trabalhadoras de assistência são vistas como inferiores, ou melhor, são invisibilizadas, por não gerarem renda direta para o Estado. Tal cenário pode ser explicado pelo conceito da "sociedade do desempenho", do sociólogo Byung-Chul Han, o qual diz que há uma busca incessante pela produtividade e pelo sucesso, o qual está associado ao dinheiro, ou seja, o reconhecimento é proporcional às conquistas financeiras. Com efeito, as cuidadoras são relegadas à inexistência na nação do desempenho, como se seus trabalhos não fossem importantes. No entanto, a ausência desses serviços geram um impacto considerável no sistema por serem essenciais para que os outros setores funcionem. Por isso, é importante dar visibilidade a essas trabalhadoras.

Fica claro, portanto, que o patriarcalismo e a visão capitalistas são grandes obstáculos. Sendo assim, o Ministério do Trabalho deve desconstruir os estereótipos patriarcais e capitalistas, valorizando nossas cuidadoras. Essa ação deve ser feita por meio da implantação de um Projeto Nacional Cuidado Diário, o qual irá promover, nas redes sociais, campanhas com influenciadores mostrando a rotina das mais diversas trabalhadoras de cuidado e o impacto social e econômico da ausência delas, além de desconstruir estereótipos sociais por meio de debates. Isso deve ser feito com o objetivo de dar visibilidade e prestígio a essas mulheres tão necessárias para nação brasileira. Dessa forma, será possível romper com essa violência que nos assola desde o período colonial.

Luana Amaro

O livro "Emma", da escritora inglesa Jane Austen, narra a história de uma jovem do século XIX que vive um conflito interno no qual o desejo de se casar com o homem que ama se opõe ao dever de cuidar de seu pai idoso integralmente. Ao sair do mundo literário e analisar a atual conjuntura brasileira, torna-se perceptível que situações como essa, em que uma mulher precisa abdicar de seus desejos individuais para se dedicar à família e ao lar são extremamente frequentes. Contudo, apesar de sua importância, esse trabalho de cuidado pelas mulheres é extremamente desvalorizado e enfrentar essa realidade se tornou um desafio tanto por conta do machismo estrutural enraizado na sociedade quanto por conta dos estigmas que o cercam.

Primeiramente, cabe destacar que o machismo no Brasil está presente desde o Período Colonial, que tinha como característica marcante o patriarcalismo. Dessa forma, é possível afirmar que a sociedade brasileira foi construída em um cenário no qual os homens comandavam e as mulheres eram responsáveis por cuidar dos afazeres domésticos e dos filhos. Assim, a parcela feminina da população foi silenciada por muitos anos, tendo que lutar para ter os mesmos direitos que os homens. Com isso, mesmo tendo conquistado vários benefícios ao longo das décadas, elas ainda não são ouvidas por grande parte dos indivíduos, de modo que o trabalho de cuidado que a maioria realiza ainda é invisibilizado perante a sociedade, sendo extremamente mal remunerado e desvalorizado.

Ademais, outro fator que torna a valorização dos cuidados realizados pelas mulheres um desafio está relacionado aos estigmas provenientes do machismo. Isso porque, tendo em vista que o país tem, desde sua origem, estrutura patriarcal, certos preconceitos sobre o papel feminino já foram normalizados. Um exemplo disso é a ideia de que o papel feminino é somente o de cuidadora, tanto do lar quanto da família, de forma que negar esse trabalho é ser irresponsável e fugir de suas obrigações. Por esse motivo, a invisibilidade desse ofício é apenas uma consequência desse estigma, pois uma mulher dificilmente será valorizada por fazer algo que, pelo senso comum, é apenas seu dever.

Infere-se, portanto, que medidas são necessárias para combater o machismo e facilitar o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil. Cabe ao Ministério da Educação, responsável por garantir a educação não só de matérias tradicionais, mas de questões sociais, criar projetos de combate ao machismo e aos estigmas que ele origina. Tal ação seria realizada por meio de palestras sobre o tema nas escolas e por campanhas veiculadas nas redes sociais com o objetivo de conscientizar a população sobre a igualdade de gênero, fazendo com que nenhum trabalho de cuidado fosse delegado somente às mulheres e que os homens passassem a valorizar esse ofício.

Luana Pizzolato

As décadas finais do século 20, no Brasil, foram marcadas pela presença de movimentos sociais diversos, como o de ruptura das condições de gênero que prejudicavam as mulheres no meio social. Embora as manifestações tenham conquistado direitos, ainda há problemas que assolam o cotidiano feminino das brasileiras, como a invisibilidade do trabalho de cuidado. De fato, essa questão é influenciada pelo sistema capitalista e pela manutenção da visão patriarcal. Logo, é urgente sanar os desafios e enfrentar a problemática.

Diante desse cenário, cabe analisar a relação entre o modelo econômico e a invisibilidade referida. Consoante a tese do sociólogo Karl Marx, os donos de produção, no capitalismo, possuem como fim o maior lucro possível. Nessa perspectiva do autor, nota-se que essa mentalidade econômica ainda rege as relações atuais, incluindo as do Brasil. Desse modo, em um contexto que o trabalho de cuidado não reproduz o capital desejado pelas empresas, esse é invisibilizado e mal remunerado. Portanto, é visível que o sistema capitalista é um entrave na questão sofrida pelas mulheres.

Ademais, a permanência da visão patriarcal acentua o problema dessa invisibilidade. Tal situação é explicada pois, desde o período colonial do Brasil, as mulheres foram designadas a cumprir funções domésticas e de cuidado, já que não eram vistas como capazes de exercer outro ofício. Nesse cenário, ao relacionar com a atualidade, é nítido que essa convenção social do papel da mulher foi mantido como modo de continuar o privilégio dos homens, detentores do poder. Assim, ao passo que esses se consideram superiores, não há uma luta para valorizar o trabalho de cuidado, já que é visto como função intrínseca e obrigatória do gênero feminino.

Em suma, constata-se que mudanças devem ocorrer para enfrentar os desafios da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher. Para isso, cabe ao poder legislativo, na condição de detentor dos meios legais de transformação, criar leis que tornem obrigatória a remuneração digna desse ofício com inclusão no mercado, além de regulamentar sua valorização. Essa proposta deve ser aprovada por meio de um debate na Câmara dos Deputados e tem como fim acabar com a invisibilidade desse trabalho. Feito isso, a questão deixará de ser um problema do corpo social brasileiro.

Lucas Muta

Em seu livro “Cidadania no Brasil: o longo caminho”, o historiador José Murilo de Carvalho defende a coexistência de direitos civis e sociais como imprescindível para que se alcance uma cidadania plena. Sob esse viés, a desvalorização de serviços fundamentais para o desenvolvimento da sociedade impossibilita a efetivação da cidadania genuína - referida por Carvalho. Nesse contexto, convém analisar a questão dos desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil, cujas principais causas são a naturalização da desigualdade de gênero e a negligência do Estado.

A princípio, deve-se compreender que a normalização das desigualdades de tratamento entre homens e mulheres perpetua o problema. De acordo com a filósofa Hannah Arendt, em virtude de um processo de massificação ao qual foram submetidos, os indivíduos foram moldados a naturalizar as mazelas circundantes. Nessa perspectiva, a população - condicionada pela tradição - não só delega trabalhos de cuidado ao gênero feminino como também menospreza suas péssimas condições. Aliás, muitas pessoas julgam a invisibilidade da mulher envolvida nesse tipo de serviço como algo natural, uma vez que, historicamente, a mulher foi obrigada a trabalhar no ambiente doméstico, independentemente da má remuneração ou, em certos casos, de sua ausência. Desse modo, a naturalização da desigualdade de gênero impede que as mulheres desse meio alcancem uma cidadania plena.

Além disso, é inegável que o Estado contribua para a persistência da problemática. Em sua obra "O Cidadão de Papel", o escritor Gilberto Dimenstein retrata um país no qual garantias constitucionais são restritas ao papel. Paralelamente, não tão distante da ficção, o governo brasileiro, apesar de possuir a Constituição Federal - uma das mais completas - é omisso quanto à lamentável situação de trabalhadoras de cuidados. Inclusive, os baixos salários destinados a essas mulheres é, no mínimo, uma injustiça, tendo em vista a importância desses serviços para o bom funcionamento da sociedade. Assim, ao ser negligente, o Estado deteriora a condição de invisibilidade feminina no trabalho doméstico, quando, na verdade, deveria enfrentá-la.

Portanto, medidas são necessárias para resolver o problema. Para isso, o Governo Federal deve promover campanhas de conscientização da população - realizadas em locais públicos de fácil acesso - por meio da divulgação de dados que expressem a relevância do serviço caseiro para o país, além de palestras que desconstruam a noção de que seja normal que as mulheres recebam menos, a fim de desnaturalizar as desigualdades de gênero. Ademais, também é obrigação do Estado aumentar a qualidade de vida desse grupo social, mediante promoção de aumento salarial, junto à disponibilização de suporte emocional, com o intuito de combater sua marginalização. Em suma, será possível enfrentar a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil e, destarte, efetivar a cidadania plena - defendida por José Murilo de Carvalho.

Lucas Malta

A Constituição Federal de 1988, documento jurídico mais importante do país, garante o trabalho remunerado e a dignidade humana como direitos de todo cidadão brasileiro, além de estabelecer a igualdade entre os gêneros masculino e feminino na sociedade. Entretanto, nota-se que tal prerrogativa não tem se reverberado na prática, visto que ainda há uma invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil, o qual, muitas vezes, não apresenta retorno financeiro. Portanto, faz-se necessária a análise dos principais fatores que contribuem para esse triste cenário: o machismo e o descaso estatal.

Em primeira análise, é importante destacar que a mulher ocupa uma posição subjugada na sociedade brasileira desde o período colonial, sendo encarregada dos afazeres domésticos e dos cuidados familiares. A partir desse contexto, após anos de inferiorização, as mulheres conquistaram diversos direitos sociopolíticos, como o direito ao voto e o trabalho remunerado. Todavia, mesmo com essas conquistas, ainda é notável que existe um machismo estrutural na sociedade contemporânea, já que, segundo o IBGE, as mulheres gastam o dobro de tempo com tarefas de cuidado, quando comparadas aos homens. Nesse sentido, por ser uma tradição enraizada na sociedade, o trabalho de cuidado realizado pela população feminina é ignorado por grande parte das pessoas.

Ademais, é imperioso ressaltar que a invisibilidade e a desvalorização desse tipo de trabalho resultam, em alguns casos, na falta de remuneração, o que contraria o direito estabelecido na Constituição. De acordo com o filósofo Nicolau Maquiagem, o principal objetivo do governante é a manutenção do poder, deixando em segundo plano a busca pelo bem comum. Assim, é evidente que o Estado não se preocupa com a garantia dos direitos das mulheres, o que reflete na ausência de políticas públicas que assegurem uma remuneração digna àquelas que trabalham. dessa forma, as mulheres se encontram desamparadas, ao mesmo tempo, pela sociedade e pelo governo.

Portanto, é necessário promover ações concretas, as quais alterem o quadro de invisibilidade do trabalho realizado pela população feminina. Logo, cabe às emissoras de TV, as quais são grandes formadoras de opinião da sociedade, realizar campanhas sobre a importância de lutar contra o machismo, por meio de anúncios publicitários, a fim de desconstruir ideias de subjugação presentes no Brasil contemporâneo. Além disso, o Governo Federal deve fiscalizar as relações de trabalho para garantir a remuneração feminina.

Lucca Aguilar

Na série "Anne with an E", que se passa no século XIX, é retratada a história de Anne, uma garota que luta contra os papéis sociais arcaicos atribuídos às mulheres, como a obrigação de permanecer em casa e a incumbência de realizar, de forma exclusiva, as tarefas domésticas. De maneira análoga à ficção, a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil representa uma trágica realidade hodierna que afeta profundamente o bem- estar da população feminina. Tal problemática está fundamentada em questões histórico-culturais, como a misoginia, e traz como consequência a redução do protagonismo desse grupo na sociedade, sobretudo em áreas relacionadas ao mercado de trabalho e à educação. Dessa feita, é fulcral que uma medida seja tomada para mitigar esse cenário de invisibilidade e desigualdade.

Nesse diapasão, o trabalho de cuidado - atividades relacionadas à manutenção da harmonia social através da atenção ao ambiente doméstico e do ato de cuidar de outras pessoas - está amplamente associado às mulheres. Diante disso, é inegável que, desde o início da colonização brasileira, as ações de lavar, limpar e cozinhar fazem parte do ideal coletivo de participação social feminina. Sob esse prisma, segundo o alemão Albert Einstein, "é mais fácil destruir um átomo do que um preconceito", ou seja, os papéis sociais atribuídos aos indivíduos, que foram perpetuados ao longo da história, estão enraizados na cultura do país, fato que é refletido pelos preconceitos e estereótipos machistas associados às mulheres, o que culmina na associação exclusiva do trabalho de cuidado a essa população.

Ademais, a invisibilidade das ações de cuidado doméstico e humanitário realizadas pelas mulheres está fortemente atrelada à desigualdade, pois a maior parte dessas atividades é caracterizada por longas jornadas de trabalho e por baixas ou inexistentes remunerações. Nesse contexto, a Constituição Federal de 1988 assegura direitos básicos dos cidadãos, como o acesso à educação e ao trabalho digno. Todavia, a invisibilidade e o caráter compulsório das ações de cuidado realizadas pelas mulheres acarretam a exclusão dessa população de outros setores da sociedade, como o mercado de trabalho, e estimula a evasão escolar e o abandono dos estudos, seja pela falta de tempo, seja pela falta de oportunidades.

Portanto, cabe à mídia - ferramenta capaz de produzir significativos impactos sociais - e às instituições educacionais de todo o país a produção de conteúdos para a elucidação da população brasileira acerca da relevância e das implicações do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres. Tal ação deve ocorrer mediante a criação de campanhas publicitárias e cartilhas educacionais com o fito de promover a desconstrução dos papéis sociais misóginos presentes na sociedade brasileira, reduzir seus impactos e, por consequência, assegurar os direitos básicos das mulheres. Apenas assim, garantir-se-á que as situações vivenciadas por Anne não condigam com a realidade da população feminina no Brasil.

Maria Laura Klein

O livro “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”, escrito por Carolina Maria de Jesus na década de 1950, narra as vivências da autora na favela do Canindé e suas dificuldades para obter sozinha o sustento de seus três filhos. De maneira análoga, cerca de setenta anos após a publicação do diário, a realidade enfrentada por Carolina permanece no Brasil contemporâneo, visto que o trabalho de cuidado realizado por mulheres, apesar de extremamente importante para a sociedade nacional, continua invisibilizado. Diante disso, cabe refletir acerca do legado histórico patriarcal e da intensificação das desigualdades para compreender os desafios que impedem a valorização do serviço feminino de assistência.

Nesse contexto, é válido considerar a existência de permanências históricas como o principal fator causador da invisibilidade do trabalho de cuidado exercido por mulheres. Isso ocorre, pois, desde os primórdios do Brasil Colônia, a população feminina tem recebido o status de sexo frágil e, por supostamente não possuírem aptidões para o sustento, tornaram-se encarregadas apenas das tarefas domésticas. Sob essa ótica, é nítido que, duzentos anos depois da superação da condição de colônia, as raízes patriarcais continuam sendo refletidas nas relações modernas brasileiras, uma vez que as mulheres permanecem responsáveis por serviços não remunerados associados à maternidade e à existência de idosos da família, o que resulta na manutenção de estereótipos de gênero e na redução do tempo disponível para a inserção feminina no mercado de trabalho, posto que os trabalhos assistencialistas são - geralmente - exercidos de forma integral. Assim, torna-se evidente que o legado histórico desvaloriza o papel da mulher no cuidado familiar, além de corroborar seu estado de vulnerabilidade devido à falta de remuneração e à dependência financeira de seus maridos.

Ademais, é relevante considerar a ampliação de disparidades sociais como uma consequência direta da problemática do cuidado invisibilizado. De acordo com o escritor brasileiro Ariano Suassuna, o Brasil é uma nação dividida em dois fragmentos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos, sendo a estrutura nacional criada para suprir apenas as necessidades dos primeiros. A partir disso, percebe-se que, em famílias cuja renda não é suficiente para contratar profissionais especializados na assistência de diversos setores sociais, tal tarefa recai sobre as mulheres que compõe o âmbito familiar, o que os condiciona a permanecer na miséria por impossibilitar seu acesso a meios de mudança de vida, como a educação e o emprego remunerado. Logo, é notório que a desvalorização do trabalho de cuidado reforça o pensamento de Suassuna, intensificando a marginalização feminina e a separação dos privilegiados e dos despossuídos.

Portanto, tornam-se claros os desafios enfrentados pela invisibilidade dos serviços de cuidado e a necessidade de combatê-los. Dessa maneira, é imperativo que o Governo Federal atue na criação de subsídios destinados a mulheres que exercem o trabalho assistencialista em tempo integral. Isso deve ocorrer por meio de alteração na Lei de Diretrizes Orçamentárias - redirecionando verbas de forma igualitária para famílias vulneráveis em todo o país -, a fim de reduzir as disparidades sociais e, consequentemente, superar o legado histórico patriarcal que atingiu Carolina Maria de Jesus e outros expoentes da população feminina brasileira.

Maria Luiza Januzzi

De acordo com a pensadora brasileira Djamila Ribeiro, o primeiro passo a ser tomado para solucionar uma questão é tirá-la da invisibilidade. Porém, no contexto atual do Brasil, as mulheres enfrentam diversos desafios para que seu trabalho de cuidado seja reconhecido, gerando graves impactos em suas vidas, como a falta de destaque. Nesse sentido, essa problemática ocorre em virtude da omissão governamental e da influência midiática.

Dessa forma, em primeiro plano, é preciso atentar para o descaso estatal em relação aos obstáculos enfrentados diariamente por mulheres que trabalham como cuidadoras. Segundo John Locke, “as leis fizeram-se para os homens e não para as leis”. No entanto, a inércia governamental direcionada à tais pessoas não cumpre com o previsto na Carta Magna, visto que a falta de investimento em políticas públicas causa dificuldades no âmbito profissional deste setor - como a desvalorização salarial. Isso contribui para que suas necessidades sejam cada vez mais negligenciadas.

Além disso, a influência dos meios digitais é um fator agravante no que tange ao problema. Para Chimamanda Adichie, mudar o “status quo” - o estado atual das coisas - é sempre penoso. Essa conjuntura pode ser observada no papel que a mídia possui na luta diária de mulheres que exercem o trabalho do cuidado ou doméstico, uma vez que ela auxilia no fortalecimento de uma mentalidade social machista no país. Isso ocasionou o silenciamento da população feminina, enraizando a lógica do patriarcado na sociedade. Diante do exposto, as mulheres perdem a voz na busca por direitos profissionais na área de cuidado, ao ser propagada a ideia de que essa função é sua, e somente sua, obrigação.

Portanto, é necessário que esta situação seja dissolvida. Para isso, o governo, órgão responsável por garantir a condição e existência de todos, deve prover apoio psicológico e financeiro às cuidadoras, por meio de investimentos e pelo exercício das leis, a fim de sanar a vulnerabilidade socioeconômica existente no cotidiano desses grupos. Paralelamente, os meios de comunicação precisam combater a lógica de inferioridade e a concepção machista agregadas a este trabalho. Assim, será possível solucionar esta questão, pois será retirada do cenário de invisibilidade, como propõe Djamila.

Mariana Goulart

Conforme o pensamento aristotélico, a justiça é a base da sociedade. Contudo, o contexto do Brasil, no século XXI, contraria esse conceito, uma vez que a permanência de invisibilidade do trabalho de cuidado realizado por mulheres é uma injustiça ao bem-estar social. Dessa forma, a desvalorização da figura feminina e a falta de apoio são alguns dos desafios desse impasse que precisam ser enfrentados.

Em primeira análise, o ato de não valorizar mulheres como cidadãs que têm os mesmos direitos que a população masculina é uma das causas para que suas atividades de cuidado sejam menosprezadas. De acordo com a pensadora Simone de Beauvoir, “o maior dos escândalos é que nos habituamos a eles”. A partir do exposto, o habito de delegar integralmente às mães, às avós o cuidado de crianças e dos afazeres domésticos , por exemplo, demonstra o enraizamento de ideias machistas. Desse modo, o estado de subserviência é visto como inerente à realidade feminina, que é invisibilizada. Assim, o esforço físico e psicológico da rotina diária de mulheres que cuidam de outras pessoas não é visto ou valorizado por conta do não enfrentamento da discriminação de gênero.

Além do mais, o escasso apoio ao público feminino que trabalha auxiliando indivíduos também é uma das razões para que tais práticas laborais permaneçam invisíveis. Segundo o filósofo Émile Durkheim, é dever do estado gerenciar questões relacionadas ao bem-estar da coletividade. Todavia, ao não haver o reconhecimento e o auxílio às mulheres que exercem trabalhos como cuidadoras, tal preceito não é efetivo por completo. Dessa maneira, patologia como depressão e ansiedade podem ser desenvolvidas pelo desgaste da alta carga horária de tarefas não remuneradas e pela sensação de desamparo social e governamental. Logo, a falta de apoio contribui para o apagamento da colaboração dessa parte da população ao corpo social.

Portanto, mudanças são necessárias para alterar essa realidade. É preciso que o Ministério da Mulher promova campanhas sobre o trabalho do cuidado realizado por mulheres. Tal ação pode ser feita por meio de documentários divulgados nos meios de comunicação - televisão, redes sociais, afim de instigar a valorização da personalidade feminina. Ademais, é necessário que as prefeituras dos municípios realizem projetos regionais de integração de mulheres cuidadoras. Isso podem ocorrer com apoio de psicólogos e auxílios financeiros às trabalhadoras que estão em vulnerabilidade social e sem renda própria , com a finalidade de diminuir o desamparo. Posto isso, espera-se uma sociedade mais justa e igualitária possa ser formada.

Mariane Barbosa

A série estadunidense “Grey’s Anatomy” retrata o cotidiano e as intempéries enfrentadas por um grupo de médicos em Seattle. Dentre essas, a protagonista Meredith sofre com o distanciamento de seus amigos após precisar abdicar de sua carreira de cirurgiã para cuidar de seus filhos e de sua casa, uma vez que seu marido não estava disposto a fazer o mesmo. Fora da ficção, o cenário não é muito diferente, tendo em vista os desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil. Isso ocorre devido à carência de conhecimento da população e à ineficiência estatal no que se refere ao tema.

Em primeira análise, observa-se a ignorância como agravante da problemática até meados do século XX, quando os direitos femininos não estavam completamente assegurados, a mentalidade social estava relacionada à divisão de trabalho por gênero, em que os serviços da esfera pública, realizados, fora de casa, eram de dominância masculina, enquanto os domésticos estavam destinados às mulheres. Assim tendo por base o filósofo alemão Immanuel Kant, o qual aponta a necessidade de educação para a mudança de comportamento e de mentalidade dos indivíduos, o cenário atual é de permanência da invisibilidade do trabalho de cuidado, haja vista a ausência de ações educativas para reverter o quadro.

Ademais, é válido ressaltar a inércia governamental a respeito da temática. Assim como abordado na produção “Grey's Anatomy”, mesmo com a crescente inserção das mulheres no mercado de trabalho, faz-se necessária a adoção de medidas que regulamentem os trabalhos de cuidado realizados pelas mulheres no Brasil, a fim de que haja a equidade entre gêneros e a valorização dos indivíduos. Entretanto, em consonância com o filósofo Darcy Ribeiro, as leis nacionais são robustas em teoria, mas ineficientes na prática, demonstrando a fragilidade do Estado brasileiro e a consequente persistência do problema no país.

Portanto, a partir dos fatos citados, atribui-se ao Governo Federal a responsabilidade de implementar o programa de ação social “Mulheres em Foco”, que, a partir de oficinas educativas e Integradas em escolas públicas e privadas de todo o país, terá por objetivo levar mais conhecimento e visibilidade acerca do trabalho de cuidado realizado por mulheres no Brasil para jovens de 10 a 18 anos. Desse modo, espera-se que os desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil sejam superados.

Marliany Lívia

Na Idade Antiga, a cidade grega de Atenas caracterizou-se por ter uma estrutura social altamente hierarquizada e machista, na qual cabia às mulheres apenas os deveres matrimoniais e domésticos. Nesse enfoque, para além de contextos históricos e de traços culturais distintos, é fundamental analisar a grave invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelo segmento feminino no Brasil, bem como os nefastos desafios para o seu enfrentamento: o deplorável preconceito de gênero e a disfuncionalidade de práticas educacionais. Assim, é fulcral nessa competente discussão acerca desses aspectos, com o intuito de impulsionar o satisfatório funcionamento da sociedade.

Diante desse cenário, convém mencionar a danosa infl uência da discriminação de gênero na questão supracitada. Sobre essa ótica, a renomada filósofa Judith Butler - em sua obra "Problemas de Gênero" - denuncia a invisibilidade e a inferiorização sofridas pelo grupo feminino, com atos traduzidos não só uma violência física, como também na dolorosa propagação de discursos misóginos e sexistas. Nesse sentido, a função de cuidar da casa e da família é atribuída às mulheres, em razão de essas serem consideradas "frágeis" e "incapazes" para o exercício do trabalho profissional e para a efetiva participação sociopolítica no território nacional - realidade comprovada pelo portal G1, o qual indicou que 51,2% das brasileiras são delegadas à responsabilidade exclusiva do cuidado doméstico, sem o devido reconhecimento familiar. Logo, tais arbitrariedades evidenciam uma lamentável afronta à cidadania feminina e, ainda, contribuem para o severo retrocesso da nação.

Ademais, é propício ressaltar a limitada abordagem escolar relativa à igualdade de gênero. Sobre esse prisma, a ínfima análise sobre os papéis socialmente impostos às mulheres e aos homens, em densa parte das instituições de ensino nacionais, fomenta a desvalorização à figura feminina no Brasil contemporâneo - procedimento contrário às lições freirianas de educação emancipatória. Nessa perspectiva, naturaliza-se a invisibilização mulheril, além de se normalizar o cuidado doméstico destinado a elas, com a perpetuação de uma mentalidade arcaica e machista. Desse modo, essa frustrante falha educacional lesiona o empoderamento do segmento feminino, por isso, necessita ser urgentemente combatida.

Portanto, faz-se imprescindível a tomada de medidas que combatam os indignantes desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas brasileiras. É cabível, para isso, a atuação do Estado, na fi gura do Ministério da Educação - órgão primordial para a superação de concepções sexistas -, para a criação de um plano governamental educativo, de ampla divulgação nas redes digitais e nas escolas nacionais. Essa proposta deve ser instrumentalizada por meio da disponibilização de verbas estatais, a fim de formular aulas e campanhas publicitárias que dissertam sobre a igualdade de gênero, o respeito interpessoal e a superação de ideologias misóginas. Com isso, objetiva-se visibilizar devidamente as mulheres e restringir o vivenciado na Atenas antiga no passado.

Matheus Almeida Barros

Por meio do seu livro "Brasil, país do futuro" - publicado no último século - o escritor austríaco Stefan Zweig expressou a sua confiança de que a nação cresceria e se desenvolveria exponencialmente. Para além disso, nos dias atuais, a sociedade brasileira vivencia uma situação inversa, uma vez que a constante invisibilidade feminina relacionada ao trabalho de cuidado e seus impactos negativos na contemporaneidade não são características de um "país do futuro". Desse modo, algumas negligências governamentais impulsionam a desvalorização trabalhista de cuidado desempenhado pela mulher brasileira e promovem o desenvolvimento de diversas desigualdades econômicas. Logo, tanto a inefetividade das leis direcionadas ao público feminino quanto a escassez de investimentos na educação capacitiva são suscitadores da problemática.

Em primeiro plano, é imprescindível destacar a baixa eficiência das leis relacionadas ao trabalho da mulher como um fato que potencializa a invisibilidade do esforço doméstico e de cuidados desse grupo. Nesse sentido, o escritor brasileiro Gilberto Dimenstein defende que a legislação brasileira funciona somente no papel e, na prática, é ineficiente. A partir disso, tal tese pode ser comprovada por meio da má aplicação das leis trabalhistas femininas, uma vez que tais documentos não garantem, efetivamente, os direitos fundamentais da mulher, especialmente no âmbito do trabalho, e geram uma dependência dessa parcela ao cuidado doméstico, que é amplamente desvalorizado e, muitas vezes, não remunerado. Logo, tal insuficiência do sistema legislativo promove uma exploração exagerada da população feminina no país.

Além disso, vale ressaltar, ainda, a falta de verbas destinadas à educação como um fator que agrava e desvaloriza o trabalho de cuidado exercido pela mulher brasileira. Nesse sentido, o filósofo esloveno Slavoj Zizek afirma que os políticos liberais modernos priorizam interesses mercadológicos e menosprezam atitudes que beneficiem a coletividade. Dessa maneira, verifica-se uma imprudência estatal que, por sua vez, despreza a importância da educação ao não investir na capacitação feminina, o que impede a entrada desse grupo no mercado de trabalho e obriga a mulher a realizar os desvalorizados "trabalhos de cuidado". Com isso, atitudes que visem ampliar a qualidade do sistema educacional brasileiro mostram-se amplamente necessárias.

Portanto, vistos os fatores que impactam negativamente na valorização do trabalho de cuidado feminino, medidas são necessárias para combatê-los. Cabe ao governo federal a realização de fiscalizações legislativas e, por meio de inspeções e vistorias em residências de risco, verificar se as leis trabalhistas femininas estão sendo devidamente aplicadas, a fim de garantir a não exploração da mulher doméstica. Ademais, o Ministério da Educação deve, através do FUNDEB - o Fundo Nacional de Educação Básica destinar investimentos às escolas, visando promover uma capacitação geral e inserir as mulheres em um mercado de trabalho justo. Somente assim, o público feminino conquistará a devida visibilidade no âmbito do trabalho.

Millena Martins Bacelar

Em seu poema "Vou-me embora pra Pasárgada", o autor modernista Manoel Bandeira vislumbrou uma sociedade idealizada, para se refugiar de uma realidade na qual o eu lírico não era feliz, evidenciando a insatisfação no tocante ao mundo concreto. Nesse sentido, fora da ficção, no Brasil, muitos indivíduos são acometidos por tal disfunção, uma vez que são vários os desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher. Logo, entre eles, estão a negligência estatal e a precária formação do ser.

Sob esse viés, vale pontuar, como uma das principais dificuldades associadas à não visibilidade do cuidado exercido em forma de labor pela mulher, no país, a indiligência governamental. Nessa perspectiva, o jornalista Gilberto Dimenstein elucida que a letargia das instituições públicas predispõe um empecilho significativo na materialização dos direitos preconizados na Carta Magna. À luz dessa asserção, é notório que o Estado não tem cumprido seu papel de modo adequado, visto que são ínfimas as políticas de remuneração adequada promovidas, as quais visem ao oferecimento de salários suficientes para viabilizar melhores condições de vida, como o aumento do poder compra de itens básicos e essenciais à sobrevivência, a exemplo de artigos de alimentação e de higiene pessoal. Como efeito, observa-se um cenário de desfacelamento da dignidade humana de muitas mulheres no ofício em voga.

Outrossim, faz-se mister destacar, como outra dificuldade a ser defrontada para combater a invisibilidade do trabalho de cuidadoras, na nação, a deficitária formação civil, que leva ao preconceito social. Nesse contexto, pode-se citar o fato de que muitas escolas são ineficientes em promover uma maior conscientização acerca da importância dos serviços de cuidado desempenhado, principalmente, por pessoas do sexo feminino, o que provoca um panorama de desvalorização e de descriminação das profissionais que, em grande parte das vezes, são subjugadas por suas características fenotípicas. Na linha desse raciocínio, cabe mencionar a "Teoria da Coercitividade", do sociólogo Émile Durkheim, ao afirmar que, se o pensamento hegemônico defende determinada ideia, nesse caso, de que essas atividades de cuidado não são relevantes para o desenvolvimento do país e de que as mulheres que a praticam são inferiores, por questão de raça ou gênero, o povo tende a segui-la.

Portanto, com o fito de dar visibilidade ao trabalho de cuidado realizado pela mulher, no Brasil, o Governo Federal, pilar inicial da pátria, deve investir mais em políticas de remuneração adequada e justa, por meio da destinação de um maior erário, que deverá ser retirado do Produto Interno Bruto, correspondente ao fornecedor de capital para fins como esse. Ademais, as Escolas, como agentes de socialização, precisam promover uma maior conscientização, mediante a elaboração de palestras e de debates, os quais informem a relevância desse ofício e da não discriminação das mulheres que o exercem, com o intuito de minimizar o preconceito. Assim, os brasileiros deixarão de protagonizar a distopia de Bandeira.

Murillo Antônio

A máxima "o trabalho dignifica o homem", apregoada pela ética calvinista durante a Reforma Protestante, foi essencial para que a visão estigmatizada sobre as práticas laborais, antes realizadas majoritariamente por plebeus e por escravos, pudesse ser revista e superada. Desde essa mudança de paradigma, o trabalho é visto como atividade que garante o progresso e a autossuficiência do homem, embora alguns ofícios, como as tarefas de cuidado realizadas por mulheres, ainda estejam suscetíveis à desvalorização e à invisibilidade. Nessa perspectiva, destacam-se a histórica disparidade de gêneros e a desigualdade social como entraves que subalternizam o sexo feminino na contemporaneidade.

Sob esse prisma, entende-se que os seculares papéis de gênero impossibilitam a valorização do trabalho de cuidado feminino no Brasil. Isso acontece, porque, segundo Simone de Beauvoir, importante filósofa feminista, “não se nasce mulher, torna-se mulher”, ou seja, o sexo feminino só se define a partir da adesão aos papéis sociais determinados pela cultura. Em vista disso, as históricas convenções de gênero, que prescrevem à mulher a mera reprodução da vida e a realização de cuidados domésticos, ainda persistem na cultura e impedem a devida remuneração e o compartilhamento das tarefas realizadas no ambiente familiar. Consequentemente, o trabalho de cuidado, o qual inclui cuidar de crianças e de pessoas com deficiência, é visto como natural e intrínseco ao cotidiano feminino, o que reitera a tese da filósofa francesa. Assim, movimentos que almejam a igualdade de gêneros devem se mobilizar para impedir a persistente invisibilidade dos afazeres domésticos realizados pelas mulheres.

Ademais, a marginalização das tarefas de cuidado performadas pelo sexo feminino se associa à permanência da desigualdade social. Articulada a esse contexto está a “invisibilidade pública”, conceito do psicólogo social Fernando Braga que denuncia o apagamento social e psicológico que grupos economicamente vulneráveis sofrem na sociedade. Nesse sentido, o fato de as mulheres pobres e periféricas, maiores e menores de idade, ainda serem aquelas que, desproporcionalmente, investem seus esforços no diário trabalho de cozinhar e de limpar a casa, sem remuneração e visibilidade, ratifica a denúncia de Braga. Por conseguinte, é comum essas mulheres, muitas vezes submetidas à dupla jornada de trabalho, não só enfrentarem dificuldades para se qualificarem e para se dedicarem exclusivamente a trabalhos formais, mas também terem seu sofrimento psíquico invalidado.

Logo, é imperativo que o sexo feminino tenha seu trabalho de cuidado valorizado. Para tanto, a sociedade civil organizada, a exemplo de grupos feministas, deve instruir amplamente sobre as diversas faces da desigualdade de gênero, pois ações educativas têm imenso poder transformador. Isso será possível por intermédio de palestras gratuitas e de rodas de conversa mensais, em parques públicos e em centros culturais, a fim de mobilizar a sociedade para exigir a valorização do ofício de cuidado feminino. Dessa forma, a invisibilidade pública que acomete mulheres será amenizada, propiciando mais dignidade às atividades trabalhistas desse grupo em conformidade à ética calvinista.

Nicolas Dominic Soares Brito

Na obra autobiográfica “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”, a autora Carolina Maria de Jesus desvela aspectos de sua dificultosa vivência no exercício de papel sociodoméstico enquanto uma mãe subalterna. Nesse sentido, ela, ao longo da trama, assume uma posição identitária atravessada por questões de gênero e da própria sociedade corrente, as quais fomentam sensos latentes de discriminação. Seguindo tal recorte literário, é fato que a história pessoal de Carolina reflete as mesmas dimensões enfrentadas por muitas mulheres no Brasil atual, contornada por interfaces invisibilizadoras de suas práticas cotidianas quanto ao trabalho de cuidadora. Logo, para se enfrentar esse cenário, cabe a análise de seus principais desafios, sendo os quais a lógica patriarcal e o apagamento curricular.

De início, vale apontar a mentalidade machista arraigada no tecido civil do país na acentuação dessa problemática. Acerca disso, a filósofa Simone de Beauvoir, em seu livro “O Segundo Sexo”, aponta que o imagético da figura feminina foi cunhado, historicamente, pelo ideal segregador do sexismo, de forma a dimensionar privilégios de conduta aos homens, à medida que direciona ações restritivas às mulheres, a citar a provação de lar. Por essa ótica, atesta-se o juízo da retórica, ainda, na contemporaneidade nacional, tendo em vista que a maior parte da comunidade feminina está inserida, desde a infância, no contexto comportamental alicerçado sob as lentes retrógradas do machismo, modulando uma lógica cuja mulheres – apenas – tornam-se encarregadas dos afazeres domésticos, como o cuidado à criança ou à pessoa idosa. Como consequência de tal quadro assimétrico, o contingente feminino, em geral, sofre a pressão do cuidado afetivo convencionado socialmente, impondo a elas agressivas facetas físico- psicológicas, a exemplo da depressão e da ansiedade, derivadas de um empenho cotidiano traduzido como uma “obrigação natural”. Assim, evidencia-se que o ímpeto patriarcal, cada vez mais, limita a abstração feminina ao contínuo labor como ação enraizada.

Além disso, é importante mencionar a crônica invisibilização dos currículos escolares brasileiros localizada no âmago desta questão. Sob esse viés, a teórica feminista bell hooks, na defesa de uma pedagogia culturalmente transgressora, sugere que os intuitos acadêmicos incubem-se de formular vertentes pluralizadas do ensino, incorporando à realidade dos discentes saberes capazes de desmantelar antigas estruturas de exclusão. No entanto, a visão da pensadora colide com uma outra conjuntura presente nas escolas do país: a estruturação de uma grade disciplinar alheia à valorização da independência dos sujeitos, com destaque às meninas estudantes. Isso ocorre, em grande medida, devido à cristalização das correntes opressoras, como o machismo basilar, nas competências pedagógicas nacionais, fato o qual, por exemplo, toma das alunas o acesso educacional às vertentes libertadoras, manutencionando um modelo de educação tradicionalizado. Por conseguinte, o trabalho de cuidado feminino – enquanto forma de legado marginalizador – persiste em um cenário no qual a equidade mostra-se pouco estimulada desde a sala de aula. Nota-se, então que a desatualização curricular, sem dúvidas, embasa esse perfil desproporcional da gestão familiar.

Portanto, é inegável que o cuidado realizado pela mulher no Brasil enfrenta circunstâncias de invisibilidade, pressupondo intervenções coletivas para a sua reformulação. Com isso em mente, o Ministério das Mulheres – proeminente instância federal afirmadora dos direitos femininos – deve promover uma ação perene de combate ao imperativo patriarcal em toda jurisdição do país. Nessa proposta, serão suscitados projetos de visibilização ao esforço das mulheres, mediante um maior repasse de verbas às administrações municipais, as quais fornecerão ajuda financeira, como auxílios justificados pelo trabalho doméstico, e também psicológica, a partir de psicólogos profissionalizados na ampla atuação feminina, com a finalidade de estabelecer diretrizes cruciais para a valorização feminina, de modo a contornar o machismo totalmente operante. Somado a isso, o Ministério da Educação, por intermédio da reformulação da Base Nacional Comum Curricular, necessita abranger essa situacionalidade díspar em sala de aula, na disciplina de Sociologia, o que fundamentará, da mesma forma, discussões transgressoras ao patriarcado a fim de, com o tempo, reverter essa moeda instrutiva. Feito isso, os desafios do gênero encarados por Carolina serão, por certo, desvencilhados da realidade brasileira.

Paulo Henrique Souza

A Constituição Federal de 1988 - documento jurídico de grande relevância no Brasil - prevê, entre tantos direitos, o acesso ao trabalho digno. No entanto, muitas brasileiras trabalhadoras de cuidado - mulheres que realizam alguma função doméstica ou cuidam de crianças e idosos - enfrentam desafios quanto à invisibilidade de seu ofício, revelando que a garantia constitucional não é vista na prática. Assim, a fim de minimizar os dilemas enfrentados por essas cidadãs, é necessário avaliar os principais motivadores da problemática: a omissão estatal e o silenciamento da questão.

Nesse sentido, em primeira análise, é fundamental analisar o papel inerte do Poder Público no auxílio às trabalhadoras de cuidado. Isso porque, segundo o filósofo Thomas Hobbes, os indivíduos cedem a sua confiança ao Estado que, em contrapartida, deve garantir os direitos básicos aos cidadãos, a exemplo de um trabalho formal. Todavia, o conceito pensado por Hobbes contrasta com a realidade brasileira, uma vez que, infelizmente, não existem políticas públicas eficientes que exijam a remuneração correta e outros direitos trabalhistas às brasileiras que, cotidianamente, saem de suas casas para cuidar de membros de outras famílias ou realizar algum trabalho doméstico. Desse modo, é inadmissível que, em uma sociedade democrática, os governantes tratem o ofício dessas mulheres de forma invisibilizada.

Ademais, é importante salientar o silenciamento da questão. Sob esse viés, Djamila Ribeiro - expoente socióloga brasileira - defende o ideal de que é crucial retirar um problema da invisibilidade para que ele seja resolvido. Com isso, partindo da visão da pensadora, enquanto não acontecerem debates quanto à importância da valorização das trabalhadoras de cuidado, maiores serão as chances delas continuarem sendo mal remuneradas ou até trabalhando por um número de horas superior ao que é permitido legalmente. Dessa forma, é inaceitável que o tema não seja amplamente discutido, dificultando, ainda mais, a vida laboral dessas mulheres.

É imprescindível, portanto, a adoção de medidas para atenuar a atual conjuntura vivenciada pelas trabalhadoras de cuidado. O Governo Federal - órgão responsável pelo bem-estar social - deve, por meio de investimentos governamentais e parceria com o setor midiático, veicular, em TV aberta e em horário nobre, a importância do trabalho de cuidado exercido por diversas brasileiras. Tal medida tem o objetivo de tirar o Estado de sua postura omissa, bem como ampliar a discussão sobre os desafios enfrentados por essas profissionais, a fim de que haja uma mobilização social para a construção de políticas públicas eficazes. Espera-se, então, que o direito ao trabalho digno - exposto pela Carta Magna - seja, de fato, uma realidade no Brasil, permitindo que o ofício dessas mulheres se torne plenamente reconhecido em nossa sociedade.

Rafaela Maria

Nos períodos de guerra mundial, em que a ação masculina esteve valorizada pelas participações militares, as mulheres mantiveram-se na perspectiva invisível, embora desempenhassem funções importantes de cuidados: de auxílio aos soldados feridos, de assistência aos filhos. Analogamente, na contemporaneidade, o cenário de invisibilidade do trabalho feminino ainda persiste, visto que essa parcela permanece atuante em espaços de cuidado familiar e social e não é valorizada. Desse modo, a fim de enfrentar esse dilema, torna-se urgente ressaltar suas causas principais: a desalinhada concepção de uma estrutura feminina associada ao conceito de amparo e a histórica desigualdade de gênero no Brasil.

Diante desse cenário, cabe postular que a análise das mulheres, alicerçada a uma visão de amparo é um impulsionador direto da falta de visibilidade do trabalho feminino nessa área. Nesse sentido, o Naturalismo, escola literária brasileira, evidenciou uma dinâmica de pensamento limitante aos humanos, influenciando culturalmente a sociedade, ao associar o aspecto instintivo das fêmeas no reino animal com a natureza das mulheres em ter um cuidado inato. Sob essa óptica, o emprego feminino nas ações de cuidado tendeu a ser, erroneamente, dado como natural e biológico e, por isso, não valorizado. Logo, a visão de um sistema feminino de cuidado, desvinculado de um aspecto profissional, não pode ser validada e deve ser combatida para a visibilidade plena.

Ademais, destaca-se a desigualdade de gênero como um fator propulsor à problemática em questão. Acerca disso, a esfera masculina é permeada, ao longo da historiografia brasileira, de méritos elencados à vida pública. Entretanto, nota-se que a atuação feminina não apresenta uma narrativa que a evidencie e a contemple integralmente, exemplificando a deficiente valorização das mulheres em âmbito social. Concomitantemente, a participação privada - em espaços de cuidado - carece ainda mais da perspectiva valorativa, pois é preconizada pelas mulheres. Assim, verifica-se que a desigualdade de gênero, de maneira estrutural e histórica no país, é o sustentáculo que invisibiliza o trabalho das mulheres.

Portanto, considerando o trabalho de cuidado realizado pelas mulheres como um desafio que enfrenta a invisibilidade na sociedade, caminhos devem ser tomados a fim de elucidar o encargo feminino. Para tanto, é dever do Governo Federal, juntamente ao Ministério do Trabalho - em parceria com órgãos públicos relacionados ao ensino nacional, como a Secretaria da Educação -, garantir a valorização dos sistemas de atenção e cuidados realizados pelas mulheres. Isso deverá ser feito mediante a aplicação do imposto público em políticas de educação escolar e social, extirpando as influências culturais errôneas de padrões de comportamento feminino, para que a sociedade incorpore um pensamento valorativo das mulheres e, com isso, seu trabalho - público e privado - seja plenamente visível.

Rafaela Muller

Historicamente, o mundo do trabalho foi dominado pelos homens, restando para as mulheres, principalmente, o trabalho doméstico e de cuidado com a família. Com efeito, no Brasil não foi diferente, e, ainda hoje, existem desafios que precisam ser enfrentados para reduzir a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no país, uma vez que esse grupo da sociedade permanece em situação de exclusão e subserviência no mercado trabalhista. Diante desse cenário, é fundamental compreender as causas desse revés, dentre as quais a desigualdade social e o patriarcalismo enraizado na sociedade são fatores agravantes dessa problemática.

Em uma primeira análise, destaca-se a desigualdade social como um dos desafios a ser enfrentado para amenizar a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil. Nesse sentido, a escritora Carolina Maria de Jesus, em sua obra literária ""Quarto de Despejo"", escrita em meados do século XX, traz uma denúncia social, com uma visão feminina de uma moradora da favela, na qual retrata a invisibilidade das pessoas que vivem em regiões desprestigiadas pelo poder público e que precisam se submeter a situações degradantes para conseguir sobreviver e não morrer de fome. Sob essa ótica, percebe-se que a desigualdade social gerada pela ausência do amparo estatal para as camadas mais pobres da população acarreta na aceitação de trabalhos mal remunerados e informais, principalmente pelas mulheres. Assim, é fundamental que haja políticas públicas que reconheçam a importância do trabalho de cuidado no país e tragam garantias para essa atividade que será cada vez mais demandada com o envelhecimento da população.

Outrossim, salienta-se que o patriarcalismo enraizado na sociedade brasileira é outro fator que contribui para a falta de visibilidade do trabalho de cuidado desempenhado pela mulher no país, sendo a desconstrução dessa cultura de inferioridade feminina mais um desafio a ser superado para solucionar esse gravame social. Segundo preconiza a Constituição Federal, em seu artigo 3º, é objetivo do Estado a construção de uma sociedade justa e igualitária, sem distinção de gênero, raça, etc. No entanto, as mulheres ainda são prejudicadas quanto aos direitos trabalhistas, recebendo salários menores e não sendo valorizadas especialmente nos trabalhos realizados em ambientes domésticos. Dessa forma, é preciso que haja uma mudança cultural no pensamento patriarcal a fim de ampliar a importância desse trabalho de cuidado feminino com o reconhecimento das garantias constitucionais.

É evidente, portanto, que medidas precisam ser tomadas para solucionar esse problema. Para tanto, o Congresso Nacional, por meio da elaboração de leis específicas, deve criar normas que assegurem a visibilidade do trabalho de cuidado existente no país, executado majoritariamente por mulheres, com a regulamentação de direitos trabalhistas para essa categoria, a fim de que essas trabalhadoras possam ter uma vida digna, uma jornada legal de trabalho e uma remuneração justa que lhes permita ter acesso à moradia, alimentação, saúde e lazer.

Victória da Silva Nascimento

A canção “Se eu largar o freio”, do cantor Péricles, fala sobre a indignação de um homem que não se sente mais amado por sua esposa, já que ela abandonou os afazeres domésticos. Os versos do sambista não se limitam ao âmbito artístico, mas configuram um reflexo da triste realidade enfrentada por muitas mulheres brasileiras, cujo trabalho de cuidado é invisilibizado em razão do machismo e da negligência governamental. Destarte, é primordial combater as origens do revés, a fim de mitigá-lo.

Nesse sentido, vale salientar que a mentalidade sexista vigente na sociedade brasileira é determinante para manutenção desse cenário caótico. De acordo com Simone de Beauvoir, “não se nasce mulher, torna-se mulher”. Sob essa perspectiva, é possível ampliar o conceito de gênero, haja vista que é necessário desconstruir a ideia de que homens e mulheres desempenham papéis fixos na sociedade em razão, exclusivamente, de sua genética. Na verdade, a concepção sobre o feminino excede a Biologia, uma vez que, em conformidade com Beauvoir, a função da mulher é imposta pela sociedade que, por sua vez, é majoritariamente machista. Dessarte, pode-se dizer que a desvalorização dos serviços de cuidado fornecidos pelas mulheres está diretamente relacionada à noção equivocada de que elas nasceram para realizar tais atividades. Logo, reverter a mentalidade sexista é imprescindível para superar o entrave.

Outrossim, a ineficiência da máquina pública é também um fator que fomenta a perpetuação desse quadro alarmante. Segundo o filósofo John Rawls, é dever do Estado garantir a igualdade de oportunidade para todos. Dessa forma, a omissão do poder público agrava a invisibilidade do trabalho doméstico feminino e, consequentemente, impossibilita sua justa remuneração. Além disso, o tempo gasto pelas mulheres em suas jornadas de ofício para a família impede que elas estudem, trabalhem e cuidem da própria saúde. Dessa maneira, a ineficácia do governo em valorizar essas mulheres acentua problemas de desigualdade de oportunidades, conforme pontuava Rawls, especialmente entre homens e mulheres. Isso porque pessoas do sexo masculino são socialmente isentas desses trabalhos, como afirmava Simone de Beauvoir.

Infere-se, portanto, que medidas são necessárias para dar notoriedade às atividades laborais de cuidados desempenhadas por mulheres. Para isso, o Ministério da Educação, como órgão responsável por construir a mentalidade dos cidadãos, deve incluir, na Base Nacional Comum Curricular, a disciplina “tarefas domésticas”, de modo a orientar também os homens na realização desses trabalhos, a fim de reverter a mentalidade machista que impera. Ademais, o governo federal, como instância máxima executiva, deve criar uma agenda econômica democrática, por intermédio da destinação de recursos voltados à remuneração das mulheres que prestam serviços de cuidado, com a finalidade de valorizá-las e garantir a igualdade de oportunidades. Assim, os versos da canção do Péricles deixarão de representar o corpo social brasileiro.

Vitória Taschetto

Consoante a Constituição Federal de 1988, documento de máximo dever de cidadania, o trabalho é um direito de todos os brasileiros. No entanto, é lamentável que muitas pessoas, sobretudo do sexo feminino, enfrentem dificuldades no seu serviço na sociedade hodierna, o que acarreta prejuízos à dignidade dessa população. Nessa perspectiva, convém analisar os principais desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher, os quais envolvem a negligência governamental e a desigualdade socioeconômica.

Acerca disso, faz-se necessário ressaltar a omissão do poder político como um dos obstáculos para a superação do desamparo do labor doméstico e de assistência exercido por meninas e mulheres. De acordo com a antropóloga Lilia Schwarcz, há uma política de eufemismos no Brasil, ou seja, determinados problemas tendem a ser ignorados, deixando de receber a visibilidade necessária. Nesse viés, ao considerar sua relevante fundamentação, infere-se que o Governo não apresenta interesse em proporcionar um serviço digno aos indivíduos do gênero feminino, agravando o bem-estar dessas pessoas. Logo, enquanto o Estado não cumprir com os seus compromissos de garantir um trabalho em que as mulheres sejam valorizadas, elas continuarão delegadas à família.

Ademais, destaca-se a discrepância econômica como outra adversidade para o enfrentamento da invisibilidade da atividade de amparo praticada por cidadãs do sexo feminino. Segundo relatório da ONU, o Brasil está entre os países mais desiguais do mundo, contexto que impede, muitas vezes, acesso à saúde, frequência escolar e, até mesmo, emprego de qualidade. Nessa lógica, é notório que a desigualdade compromete a conquista de um trabalho bem remunerado pelas mulheres, visto que muitas precisam dedicar-se exclusivamente ao cuidado com a família e com o lar, o que afeta a integridade dessas pessoas. Com isso, torna-se urgente coibir as disparidades sociais, sob pena de essa população seguir enfrentando as convenções de gênero.

Portanto, é mister que o Estado tome providências para amenizar os desafios para a superação do desamparo do serviço de cuidados realizado pelas mulheres. Com a finalidade de acabar com os impasses do labor de assistência feito pelas pessoas do sexo feminino, urge que o Governo - responsável por organizar o local de um povo – crie campanhas de valorização do trabalho dessas cidadãs, por meio da publicação de vídeos nas redes sociais dessa instância, garantindo, como efeito, a qualidade de vida dessas mulheres. Além disso, a fim de reduzir a desigualdade econômica entre as trabalhadoras de cuidado, é necessário que o Estado assegure um salário aquedado a essas pessoas. Assim, a partir dessas iniciativas, a invisibilidade do serviço de cuidado exercido pela mulher deixará de ser uma realidade na nação, conforme prevê a Constituição Cidadã.

Fonte dos dados: Portal de Notícias G1 | Portal Guia do Estudante | Cartilha Redação a mil por Lucas Felpi.

Até a próxima!

Aumente sua nota estudando por questões
✔️ Faça questões de todas matérias conforme seu nível
✔️ Saiba sua nota conforme o TRI e veja seu desempenho
✔️ Veja a resolução de cada questão e aprenda com seus erros
✔️ Descubra quais matérias você precisa estudar mais
Apostila Gratuita Redação ENEM
Cadastre-se na plataforma e tenha acesso a uma apostila completa para redação ENEM, um banco de temas para treinar e modelos de redação comentados.

Correção de redação instantânea, detalhada e gratuita. Curso, apostila e materiais para evoluir sua nota na redação ENEM.

Ícone InstagramÍcone InstagramÍcone FacebookÍcone Pinterest
Últimos conteúdos

GRQTECH SISTEMAS DE INFORMACAO LTDA 33.841.042/0001-04