Leia as 12 redações nota 1000 do ENEM 2024
Veja as 12 redações que alcançaram a nota máxima em 2024.

Escrito por Prof. Raquel de Lima
Atualizado em 4 de Agosto de 2025Tirar 1000 na redação do ENEM é muito difícil — e os dados comprovam: em 2024, só 12 alunos conseguiram a nota máxima, o menor número da história. O nervosismo no dia da prova e o tema inesperado costumam ser obstáculos que atrapalham até quem se preparou.
Mesmo que sua meta não seja a pontuação máxima, conquistar uma boa nota aumenta bastante suas chances de aprovação. E a melhor forma de se preparar é analisando na prática o que funcionou: as redações nota 1000.
Pra te ajudar nisso, selecionei as 12 redações nota 1000 do ENEM 2024. Vamos ver juntas o que esses alunos fizeram pra chegar lá?
Amanda Chagas
A obra “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior, conta as vivências das irmãs Bibiana e Belonísia, com ênfase na forte relação cultural e religiosa que estabelecem com a ancestralidade africana. Fora da ficção, apesar do enaltecimento promovido pelo autor, as heranças afrodescendentes sofrem com a desvalorização constante no Brasil. Nesse contexto, o passado colonial e a cultura eurocêntrica configuram desafios que fundamentam esse grave panorama.
Em primeira análise, convém ressaltar que a escassa valorização de tais tradições se arquiteta como expressão de contribuições históricas. De fato, a escravização de povos oriundos da África, no Brasil Colônia, constitui a base para a formação do país. Nessa conjuntura, esses indivíduos foram vítimas de violências físicas e simbólicas que, de forma cruel, visavam à docilização e ao apagamento da identidade desses grupos. Desse modo, a marginalização da população negra nesse período, promovida pela elite branca, implicou, consequentemente, a invisibilização dessa minoria até a atualidade, visto que o Estado falhou na inserção social e na valorização do legado africano após a abolição da escravidão.
Ademais, uma segunda análise acerca da problemática revela a influência da hipervalorização da cultura branca. Sob a perspectiva de George Orwell, a mídia é capaz de mover a massa - inclusive no que tange às preferências culturais. Nessa lógica, a hegemonia europeia - de caráter secular - nas produções artísticas brasileiras, somada à inferiorização de elementos de matriz africana, culminou na instituição de uma cosmovisão popular voltada para a descredibilização das heranças invisibilizadas. Com efeito, a exposição midiática insuficiente culmina na subvalorização dessas tradições, as quais sofrem, por exemplo, com tentativas de criminalização, como ocorreu com o samba na Primeira República e com o funk em 2018. Logo, essa realidade degradante precisa ser desconstruída.
Portanto, torna-se evidente o impacto de questões históricas e culturais na manutenção do impasse sociocultural. Para combater esses desafios, a mídia - entidade de vasto alcance popular - deve promover a valorização das culturas africanas herdadas , por meio da criação de filmes, documentários e novelas que as exponham, a fim de mitigar a perpetuação da desvalorização histórica e de problematizar o passado colonial. Dessa maneira, finalmente, será possível atribuir o devido valor ao legado afrodescendente no Brasil, assim como em “Torto Arado”.
Anna Beatriz Veríssimo
Na obra literária “Torto Arado”, Itamar Vieira retrata uma comunidade quilombola na fazenda Água Negra, na Bahia, relatando aspectos socioculturais relevantes para essa população afrodescendente, como os rituais religiosos e os saberes tradicionais passados pelas gerações. Fora da ficção, é nítido que a sociedade brasileira não valoriza a herança africana presente desde a histórica formação nacional. Essa problemática da invisibilidade decorre da mentalidade colonial eurocêntrica, bem como da lacuna educacional no tocante ao resgate da cultura afro-brasileira.
Dado o exposto, pode-se considerar a persistência de ideais eurocêntricos como empecilho para o reconhecimento do vasto legado africano no país, uma vez que tais formas de conhecimento são estigmatizadas em detrimento da valorização dos costumes hegemônicos dos colonizadores. Tal questão pode ser verificada sob o conceito de “racismo estrutural”, cunhado pelo antropólogo Silvio Almeida, em razão da naturalização do racismo em diversas esferas, a exemplo da linguagem e do uso de expressões como “magia negra” para vincular um sentido negativo ao que é negro. Dessa forma, o pensamento de desvalorização da herança africana se materializa no cotidiano, conforme denunciado por Almeida, e distancia a nação do desejo de aprender acerca dos costumes e valores africanos, ao atribuir estereótipos de desqualificação a esses saberes, o que aprofunda o óbice.
Além disso, é notória a falha educacional brasileira no que se refere ao resgate da cultura afro-brasileira, presente em canções, ritmos, festas populares e diversas manifestações importantes para o patrimônio nacional. Nesse viés, embora a Lei de Diretrizes e Base preconize o ensino obrigatório da história africana no ambiente escolar, ainda há uma escassez de programas nesse âmbito, na medida em que observa-se um amplo desconhecimento acerca das grandes personalidades negras ou de suas origens (como o escritor Machado de Assis, muitas vezes representado como branco), bem como do heroísmo dos abolicionistas, a exemplo do advogado Luiz Gama. Dessa maneira, elementos culturais, como a literatura negra, são esquecidos por parte da população, o que destona da proposta memorialística da LDB.
Portanto, é preciso reconhecer e valorizar a herança africana no Brasil. Para isso, o Governo Federal, em parceria com as secretarias estaduais de educação, deve ampliar as campanhas de valorização da cultura africana, sob um viés afrocentrado, por meio de votação entre deputados e senadores — responsáveis pela aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA) —, com a finalidade de combater a visão eurocêntrica presente na sociedade, promovendo o aprendizado da história sob a ótica dos afrodescendentes. Ainda, cabe ao Ministério da Educação, como responsável pela elaboração de políticas públicas de educação, fomentar palestras socioeducativas, ministradas por pedagogos negros, nas instituições escolares, a fim de disseminar o conhecimento acerca o inestimável legado africano na história e na cultura do país. Nessa perspectiva, o panorama diverso destacado em “Torto Arado” será devidamente valorizado pela sociedade brasileira.
Camila Aguiar
A obra “Torto Arado”, do escritor Itamar Vieira Jr., pode ser facilmente categorizada como um livro essencial para a compreensão das raízes brasileiras. Na trama, duas irmãs, pertencentes a uma comunidade quilombola no interior da Bahia, lutam contra a opressão e a invisibilidade social e cultural diariamente. Ao transpor o viés literário, nota-se que a luta pelo reconhecimento é uma batalha constante para a população afro-brasileira no século XXI. A partir desse contexto, não há como hesitar: é imprescindível compreender os impasses para a valorização efetiva da herança africana no Brasil.
Nesse sentido, percebe-se que a histórica marginalização da cultura negra advém de um ciclo social pautado na desigualdade. Isso acontece, porque, como teorizado pelo sociólogo Boaventura de S. Santos, há no Brasil a persistência de um “colonialismo insidioso”. Em outras palavras, há a manutenção de raízes desiguais, que é mascarada em meio a avanços sociais, caracterizando assim, uma forma de dominação ainda mais perversa e cruel. Tal questão torna-se evidente ao constatar que o Brasil, ao ser um dos últimos países a abolir a escravidão, após mais de 300 anos marcados por violência e derramamento de sangue africano, tratou a abolição de forma panfletária ao seguir reproduzindo padrões de invisibilização e exclusão (nas suas mais variadas formas) contra os povos afro-brasileiros. Assim, a população preta é mantida subjugada pelos detentores do poder, o que é reforçado pelo fato do Brasil ocupar, mais uma vez, o 8o lugar, mais uma vez, entre os países mais desiguais do mundo segundo a ONU.
Ademais, é válido ressaltar que, além da manutenção de raízes desiguais, a redução das manifestações culturais africanas está relacionada a uma alienação historicamente programada. Isso ocorre, pois há, na conjuntura social atual, uma espécie de “epistemicídio brasileiro”, ou seja, há a validação apenas das formas de conhecimento que são disseminadas pela cultura dominante do ocidente. Tal fato (estudado pela filósofa Sueli Carneiro) provoca um sepultamento dos saberes ao apagar o conhecimento e as tradições preservadas ao longo dos séculos pelos povos afrodescendentes. Dessa forma, perpetua-se a desvalorização da cultura plural contida na história dos povos pretos, responsáveis por grande parte da construção identitária nacional.
Portanto, urge a necessidade de valorização da herança africana no Brasil. Para isso, o Poder Executivo Federal, mais especificamente o Ministério da Educação, deve fomentar um projeto de resgate das heranças afro-brasileiras. Tal ação ocorrerá por meio da implantação de uma “Campanha Nacional de Validação da Cultura Africana, a qual irá promover o consumo e a análise de obras que fazem jus à identidade brasileira em ambiente escolar, ressaltando a importância e a pluralidade da herança afrodescendente. Isso será feito a fim de trazer maior visibilidade para o patrimônio cultural brasileiro e incentivar o protagonismo preto nos mais diversos âmbitos sociais.
Clara de Oliveira
O filme "Pantera Negra" foi considerado um marco da cinematografia mundial, devido à presença de um elenco majoritariamente negro e à representação da cultura desse grupo étnico-racial de maneira inovadora e prestigiada. Fora da ficção, o cenário apresentado distancia-se da realidade brasileira, haja vista os desafios, sustentados pelo sistema de ensino e pelo copo civil, para a valorização da herança africana no país. Nesse sentido, de modo a atenuar essa situação, é preciso analisar o descaso da esfera educacional e a mentalidade social como causas dessa grave problemática.
De início, convém ressaltar a negligência do setor instrucional como preponderante para minimizar o combate do desprestígio das heranças africanas no Brasil. Essa inoperância decorre da precariedade da atuação das escolas nacionais, principalmente das públicas, para o cumprimento da Base Nacional Comum Curricular — documento normativo da grade educacional brasileira — no que tange à abordagem histórica dos povos africanos com ensino aprofundado e que exalte as suas contribuições culturais, tendo em vista o lecionamento, muitas vezes, superficial e eurocêntrico. De fato, essa conjuntura justifica-se na insuficiência da capacitação dos professores e na vigência de uma didática passiva e voltada para o vestibular, o que torna tais instituições possíveis de serem consideradas como um estado de “zumbi”, conforme o sociólogo Zygmunt Bauman, já que se afastam de seus objetivos principais, isto é, de formação social do aluno. Com efeito, diante dessa falta de conhecimento, fomenta-se a criação de estereótipos e a invisibilidade de personalidades negras importantes, prejudicando a representatividade e a valorização dessa comunidade, além de ser um risco à preservação dos costumes.
Além disso, é válido destacar que o imaginário social cria uma configuração propícia para a permanência dos entraves a esse grupo étnico-racial. Isso ocorre, pois verifica-se a persistência de atitudes de discriminação contra a afirmação das influências herdadas na aparência e nas atividades sociais por indivíduos afrodescendentes, a exemplo do preconceito associado aos cabelos crespos e às religiões de matriz africana, respectivamente. Evidentemente, tal prisma fundamenta-se em resquícios do passado colonial e imperial do país, em que se vigorava a desvalorização e a desumanização de pessoas negras em um contexto escravocrata. Por conseguinte, o enraizamento desse pensamento e a sua consequente naturalização mostram-se responsáveis por altos de violência simbólica, como atribuição dessas heranças como pejorativas. Dessa forma, observa-se o prejuízo à inclusão dessa população, a qual perde suas individualidades.
Portanto, torna-se evidente que os desafios advindos da área educacional e da nação devem ser amenizados. Diante disso, urge que o Ministério da Educação — órgão encarregado do ensino brasileiro — execute a melhoria do lecionamento sobre a história africana e a importância de suas heranças, com uma perspectiva aprofundada e protagonista frente ao recorte europeu. Isso deverá ser feito por meio da maior capacitação dos docentes e da universalização do conteúdo nas escolas, a fim de atender à BNCC. Ademais, cabe ao Ministério das Comunicações, mediante propagandas periódicas nos veículos midiáticos, elucidar o povo sobre a temática e desconstruir mentalidades preconceituosas. Espera-se, assim, que haja a valorização dessas contribuições culturais no Brasil como em “Pantera Negra”.
Danilo Oliveira
O "ciclo do ouro" – ocorrido no Brasil no século XVIII – acarretou o aumento do número de escravos provenientes do continente africano no país, trazidos com graves diferenças culturais entre si, sem que fossem levados em consideração os aspectos regionais e sociais de suas origens, ocasionando uma homogeneização forçada de indivíduos. Atualmente, de forma análoga à História Colonial Brasileira, ainda há uma forte tendência à padronização cultural da África, desprezando sua pluralidade e seu legado. Assim, dois grandes desafios para a valorização da herança africana no Brasil devem ser debelados: as políticas públicas ineficazes e as falhas educacionais.
Diante do cenário exposto, as políticas públicas ineficazes possibilitam a desvalorização do legado africano no país, uma vez que elas impedem o estabelecimento concreto de uma revisão histórica pautada em mais oportunidades, proteção e visibilidade para pessoas pretas. Consoante o sociólogo Émile Durkheim, uma sociedade sem regras claras, sem valores e sem limites encontra-se em estado de anomia social. Nesse sentido sociológico, esse estado anômico pode ser observado na hodierna realidade brasileira, na medida em que as políticas públicas ineficientes permitem o desprezo e o desrespeito com as religiões de matriz africana, a desassistência em áreas quilombolas e a ausência de representatividade em propagandas, por exemplo. Com base nisso, uma mudança urgente e pragmática deve ser realizada, visando à transformação dessa conjuntura, de modo a não só valorizar a herança africana no país, como também a protegê-la.
Ademais, as falhas educacionais também constituem-se como importantes fatores que aprofundam o descaso com o legado africano no Brasil. Segundo o filósofo Inmanuel Kant, "o homem é aquilo que a educação faz dele". Sob esse prisma filosófico, essas falhas educacionais solidificam mentalidades alienadas na população, potencializando preconceitos e ratificando equívocos concernentes à cultura africana no país. Nesse viés, a própria formação do cidadão brasileiro - no que tange à África e sua herança - é maculada por noções desprovidas de veracidade e etnocêntricas, corroborando a desvalorização da pluralidade e das "raízes africanas", presentes em campos variados, como a gastronomia, a dança e a religião, representados respectivamente, pelo acarajé, pelo tambor de crioula e pelo candomblé. Então, torna-se imperiosa a correção imediata dessas falhas, no sentido de debelar erros e ampliar visões africanas positivas.
Infere-se, portanto, que as políticas públicas ineficazes e as falhas educacionais configuram-se como os dois desafios para a valorização da herança africana no Brasil. Nessa ótica, o Governo Federal - órgão máximo responsável pela ordem social - deve ampliar as políticas públicas existentes, tornando-as mais eficazes, por intermédio de uma aliança com o Governo Estadual e o Governo Municipal, com a finalidade de aumentar a proteção, as oportunidades e a representatividade das pessoas pretas. O Governo Federal também deve corrigir as falhas educacionais, por meio da Mídia — grande divulgadora de informações — e da Escola, a fim de mitigar equívocos, ocasionando a valorização do legado africano. Logo, o país possuíra uma estrutura melhor para "dialogar" com a herança da África, longe da padronização impositiva ocorrida durante o "ciclo do ouro" no século XVIII.
Elivando Rodrigues
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, ao discutir acerca da invisibilidade de alguns grupos na sociedade, equivale tal apagamento a uma morte social, analogia essa que expressa a importância de se reconhecer determinados coletivos para que os indivíduos a eles pertencentes tenham garantida a sua plena cidadania. Nesse contexto, ao se observar o que ocorre à herança africana no Brasil, percebe-se a existência de desafios para a sua devida valorização, os quais excluem, dessa maneira, a relevância dessa cultura - e, por consequência, a de seus praticantes- para a identidade do país. Por conta disso, é necessário analisar duas das suas causas:o racismo estrutural e a falha escolar.
Nesse cenário de apagamento da herança africana, evidencia-se o racismo estrutural como um dos seus causadores. A esse respeito, a filósofa brasileira Marilena Chauí aponta que a sociedade tende a transformar diferenças em desigualdades, ou seja, estabelecido um padrão de conduta, aqueles que dele divergem são inferiorizados, sendo violentados, antes de tudo, simbolicamente. Devido a essa lógica de hierarquia, o Brasil - país de origem colonial escravocrata - estabeleceu o modelo cultural europeu - branco e cristão - como referência a ser seguida, censurando, por exemplo, as manifestações religiosas próprias dos negros escravizados, os quais tiveram que preservar a sua fé e os seus ritos em um processo de sincretismo religioso, por medo da opressão. Por conseguinte a esse tratamento historicamente racista, persistem, hodiernamente, adjetivações negativas atribuídas às religiões de matrizes africanas, preconceito esse que inibe muitos herdeiros dessa cultura de a exercerem publicamente, temendo represálias, o que se caracteriza como uma agressão simbólica. Dessa forma, é pertinente combater os estigmas associados às tradições africanas.
Além disso, a abordagem ainda eurocentrada das escolas dificulta o reconhecimento das heranças culturais oriundos da África. Sob esse vies, apesar de a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propor a discussão a respeito do legado sociocultural negro no país, as instituições de ensino, em sua maioria, adotam uma perspectiva que ignora as contribuições advindas do continente africano - como a influência na música, na língua e na culinária - e limitam o debate sobre o assunto às aulas que tratam da história europeia, isto é, relegam aos afrodescendentes um papel secundário na formação da memória e da identidade do nação. Consequentemente, por os alunos não terem abordagem adequada, a ideia de pertencimento da população negra ao Brasil é comprometida, uma vez que o enfoque é dado, predominantemente, à população branca. Posto isso, é necessário reconhecer e combater essa falha escolar.
Portanto, é imprescindível valorizar a herança africana no Brasil. Para isso, as escolas - responsáveis, segundo a BNCC, pela formação do senso crítico quanto à sociedade - devem, por meio de debates sobre o racismo estrutural e de palestras com especialistas em cultura negra, apresentar aos alunos a influência positiva da África para a identidade brasileira, por exemplo, a colaboração linguística, musical, culinária e religiosa. Com tal proposta, tem-se a finalidade de combater o racismo, infelizmente, ainda presente na sociedade e reconhecer o Brasil como um país diverso. Logo, a "morte social" de que falou Bauman não afetará a herança africana no país.
Hunter Aleixo
O Governo Federal estabeleceu o Dia da Consciência Negra como um feriado nacional com o objetivo de enaltecer a importância da cultura africana para a construção do Brasil. Tal fato, apesar de representar um avanço no reconhecimento da história afro-brasileira, ainda é insuficiente para compensar o histórico apagamento da herança africana no país. Dessa forma, é evidente que a valorização dessas raízes culturais brasileiras é desafiadora, tanto pela educação eurocêntrica quanto pela baixa representatividade política dos negros.
Nesse contexto, o ensino nacional voltado para a história européia revela um problema para a valorização da tradição africana no Brasil. Nesse sentido, embora a história africana seja trabalhada nas escolas do país, como revelou o jornal da Unesp, a verdade é que tal legado ainda assume um papel secundário na história apresentada pelas instituições de ensino nacional, fazendo com que essa matéria seja apresentada de maneira superficial se comparada ao estudo da cultura européia. Assim, a educação brasileira privilegia o passado do colonizador, exemplificado pela figura do bandeirante, enquanto o legado africano, como a resistência nos quilombos, é pouco trabalhado ou, em alguns casos, esquecido, mostrando a desvalorização da cultura afro-brasileira. Então, o apagamento das raízes africanas por meio do ensino é um empecilho para o reconhecimento dessa herança no país.
Além disso, a falta de representantes políticos dos negros é outro desafio para a valorização da tradição africana no Brasil. Em relação a isso, pode-se utilizar o conceito criado pela socióloga brasileira Djamila Ribeiro de "lugar de fala", o qual define que certas pessoas são representantes ideais de certas minorias devido às suas experiências pessoais e, justamente por isso, enriquecem o debate público acerca desses grupos. No entanto, muitos cidadãos negros não possuem representatividade de suas comunidades nas altas esferas de poder, como o Congresso Nacional, o que, por não poderem exercer seus "lugares de fala", acaba esvaziando a discussão sobre o passado africano no Brasil e, consequentemente, perpetua a desvalorização dessa herança no país.
Portanto, o Ministério da Educação, responsável em garantir um ensino que desenvolva a cidadania, deve ampliar a participação da história afro-brasileira na educação do país, visto que esse passado vem sendo tratado como secundário na formação cultural do Brasil. Essa ação precisa ser feita por meio da mudança do currículo escolar, a fim de que a herança africana conquiste a devida valorização no país. Ademais, o Estado deve aumentar a representatividade política da comunidade negra, com a finalidade de garantir uma discussão profunda sobre a tradição africana no país.
Julia Moreira
De acordo com a filósofa brasileira Djamila Ribeiro, para que um problema seja solucionado, é fundamental torná-la público. Entretanto, no Brasil, a valorização de herança africana nunca foi uma premissa coletiva expressiva, visto que o legado colonial ainda invisibiliza o papel do povo negro, marginalizando seus feitos e contribuições. Sob tal perspectiva, o desafio de valorizar a herança africana no Brasil reside tanto na exclusão sistêmica quanto na influência midiática.
Primeiramente, destaca-se a exclusão sistêmica como obstáculo à valorização do legado africano. Segundo o sociólogo francês Pierre Bourdieu, as estruturas sociais mantêm e reproduzem desigualdades de forma velada, naturalizando privilégios e opressões. No Brasil, isso se expressa por meio do racismo estrutural, que limita o acesso da população negra a posições de poder e prestígio social, como cargos políticos, acadêmicos e midiáticos, restringindo sua capacidade de influenciar narrativas culturais. Como consequência, a herança africana permanece à margem do reconhecimento institucional, enquanto símbolos eurocêntricos seguem sendo exaltados como universais. Assim, o apagamento simbólico do legado africano perpetua desigualdades históricas e impede avanços significativos em termos de justiça social.
Em segundo plano, os meios de comunicação também são agentes na construção da invisibilidade do legado africano. Durante boa parte da história do país, as práticas culturais afro-brasileiras foram criminalizadas, sendo muitas vezes retratadas de forma pejorativa. Um exemplo claro disso é o samba, gênero musical com raízes africanas que foi perseguido e censurado pela mídia até ganhar aceitação no governo Vargas, somente após ser apropriado por setores elitizados da sociedade. Tal fato evidencia como a validação cultural só ocorreu quando mediada por grupos hegemônicos e transmitida sob a ótica da grande mídia, o que distorce seu significado original e limita sua representatividade popular. Dessa forma, é evidente a responsabilidade das plataformas midiáticas na promoção de uma visão plural e justa das contribuições africanas à formação do país.
Portanto, faz-se essencial o combate aos entraves que impedem a valorização da cultura afro-brasileira. Para isso, cabe ao Poder Legislativo - órgão responsável pela criação de leis que orientam políticas públicas - atuar no combate à exclusão sistêmica por meio do incentivo à produção cultural negra, mediante a elaboração de normas que prevejam a destinação de verbas específicas para projetos afro-brasileiros, a fim de ampliar o acesso equitativo aos espaços culturais e valorizar a herança africana no país. Ademais, o Ministério da Cultura deve promover campanhas midiáticas relativas à contribuição africana nas artes, na ciência e na política racional. Desse modo, o Brasil caminhará para se tornar um país em que a herança dos povos que a formarem seja, de fato, reconhecida e valorizada.
Marina Vieira
Na obra literária "Raízes do Brasil", escrita pelo sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, há a representação da miscigenação brasileira, caracterizada pela predominância da etnia africana na formação populacional do país. Contudo, apesar da indiscutível relevância da cultura advinda dos negros para a construção cultural da nação, a herança dos povos africanos não é devidamente valorizada, visto que suas contribuições culturais são omitidas no meio social. Logo, perante esse entrave, cabe a análise da estagnação estatal e da negligência educacional.
Diante dessa panorama, é perceptível a fragilidade governamental em valorizar a herança proveniente da África no Brasil. Nesse viés, a partir de 1888m dada a promulgação da Lei Áurea - responsável pela abolição da escravatura -, os escravizados africanos e seus descendentes tornaram-se marginalizados socialmente, em virtude da ausência de ressarcimento dos seus direitos civis por parte do governo. Sendo assim, como reflexo desse fato histórico, o Estado ainda negligencia a cultura afrodescendente ao não proporcionar políticas públicas eficazes, uma vez que não impulsiona a inserção de manifestações culturais africanas, como as danças tradicionais no ambiente social - a exemplo da falta da disseminação de festivais africanos pelo território -, em virtude da priorização da destinação de verbas a eventos de culturas privilegiadas, como a europeia. Por conseguinte, as práticas culturais dos afrodescendentes são invisibilizadas, tornando-as vítimas de discriminação, como o racismo, anulando suas identidades étnicas. Em suma, a omissão estatal é um fator agravante da problemática retratada.
Outrossim, é notório o impacto da ineficiência educacional em relação à desvalorização da herança dos negros na nação verde-amarela. Nesse contexto, o político Nelson Mandela ressalta o valor da educação e o seu potencial de salvar a humanidade. Entretanto, a educação brasileira apresenta uma série de lacunas que dificultam a promoção da herança africana no país. Prova dessa conjuntura é a escassez de disciplinas que abordem a história da cultura afrodescendente no Brasil — sem ilustrar apenas o período da escravidão —, devido ao destaque dado a matérias consideradas mais importantes, como a matemática. Consequentemente, as manifestações culturais africanas são negligenciadas são negligenciadas pelos estudantes, por adquirirem uma visão estereotipada de suas práticas e desconsiderarem sua diversidade. Em síntese, a lacuna educacional corrobora a temática mostrada.
Portanto, medidas necessitam ser tomadas para mitigar os desafios supracitados. Assim, é dever do Ministério da Cultura — órgão responsável por administrar a preservação cultural brasileira — incentivar a exposição da cultura africana, mediante eventos culturais. De igual modo, cabe ao Ministério da Educação, órgão responsável por assegurar a educação nacional, inserir os estudos africanos na grade curricular, mediante a criação de uma matéria para isso. Nesse sentido, com o intuito de valorizar a herança africana, suas práticas serão respeitadas.
Rafael Santana
O álbum musical "Duas Cidades", da banda brasileira Baiana System, aborda, em algumas de suas canções, o apagamento da influência histórica africana no Brasil. Inegavelmente, em dias atuais, é possível constatar uma relação direta entre a composição artística citada e a desvalorização da herança africana no país. Isso é explicado devido à falta de política pública de ensino e à ausência de lei específica. Logo, é essencial analisar e intervir sobre essa problemática.
A princípio, deve-se observar que o pouco fomento governamental em ações de gestão educacional é um problema a ser combatido. Sob a perspectiva de Macaé Evaristo, ministra dos Direitos Humanos, é urgente a necessidade de iniciativas para a inclusão da história e da cultura afro-brasileira nas escolas. Para entender melhor tal posicionamento, é importante compreender que o atual ensino sobre os povos africanos é apenas relatado em aulas específicas de algumas disciplinas, como história e literatura, sem se aprofundar na grande influência cultural que a África possui no Brasil. Dessa forma, de acordo com Chico César, cantor e compositor de músicas afro-brasileiras, as crianças e os adolescentes necessitam ter uma formação ampla sobre a temática, com aulas multidisciplinares, por exemplo, de música e de capoeira, bem como as tradicionais aulas já existentes, porém integradas à herança africana presente na sociedade. Nesse sentido, é substancial modificar esse contexto e desenvolver uma forte política pública de ensino.
Ademais, é imperativo pontuar que atitude insuficiente do Poder Legislativo Federal em atuar no tema é um problema a ser combatido. Sob a ótica de Duda Salabert, deputada federal e professora de literatura, é imprescindível a alteração da lei que orienta a educação básica brasileira. Isso pode ser explicado pelo entendimento de que apenas com empenho legislativo é possível transformar o mecanismo legal que define as matrizes de referência do ensino nacional. Dessa maneira, com a união de parlamentares para o reconhecimento da importância da herança africana na formação educacional, poderá ocorrer a consolidação de políticas públicas, como o investimento da capacitação de professores e de profissionais especializados em cultura afro-brasileira. Assim, o crescimento do fomento estatal no setor, garantido por aparato legal, contribuirá para a efetivação de uma forte identidade nacional. Em suma, se o Congresso Nacional se omite de enfrentar tal cenário danoso, entende-se o porquê de sua perpetuação.
Portando, com o intuito de solucionar esses desafios, o Poder Executivo Federal, por meio do aumento de ações governamentais, deve estimular iniciativas educacionais relacionadas à herança africana, a fim de valorizar a temática. Além disso, o Poder Legislativo Federal, por intermédio da criação de um projeto de lei, necessita elaborar uma nova política nacional de ensino, com a obrigatoriedade de investimento público na área, com a definição de medidas de gestão pública capazes de instituir aulas multidisciplinares, como de música e de cultura afro-brasileira nas escolas, com o objetivo de reconhecer a importância do tema na formação da sociedade. Feito isso, o apagamento da influência africana abordado na obra da banda Baiana System será, enfim, combatido.
Sabrina Ayumi Alves
O livro "Nós matamos o cão tinhoso" de Luís Bernardo Honwana retrata a sociedade moçambicana durante a colonização portuguesa. Na obra literária, observa-se uma dinâmica social pautada pela inferiorização dos indivíduos negros, na qual o racismo está enraizado nas interações entre as pessoas, na qualidade de vida e na autoimagem de cada ser. Assim, ao inserir a imagem criada pelo livro no contexto brasileiro de ínfima valorização da herança africana, infere-se que o passado colonial persiste nas estruturas do Brasil, se manifestando a partir do apagamento sistemático da cultura afro-brasileira. Em razão disso, deve-se discutir o papel do Estado no setor escolar e cultural diante desse contexto de silenciamento.
Em um primeiro momento, é necessário entender a relação entre a dinâmica social brasileira e a desvalorização da herança africana. Para fundamentar essa ideia, o filósofo Ailton Krenak afirma que, no Brasil, existem dois grupos — a humanidade, formada pela elite econômica, e a subumanidade, a qual tem seus direitos negados e é constituída principalmente pelas populações marginalizadas socialmente, como os povos originários e os negros. Por conseguinte, entende-se que o apagamento da cultura africana é uma extensão do panorama da desigualdade social brasileira, já que essa desvalorização sistemática silencia as vozes de populações que são violentadas e oprimidas há séculos, o que favorece a manutensão dessas pessoas no grupo da subumanidade. Dessa forma, o Estado deve desenvolver medidas que visem valorizar e apoiar artistas e escritores relacionados à herança africana no Brasil.
Sob outra ótica, a compreensão acerca da importância da ancestralidade na formação da autoimagem e da noção de pertencimento de cada indivíduo é imperativa. Para isso, a filósofa brasileira Marilena Chaui defende a ideia de que, enquanto os animais são seres naturais, os humanos são culturais - ou seja, a cultura em que cada pessoa está inserida compõe a essência desse ser. A partir disso, compreende-se que o silenciamento da herança africana nega a uma grande parte do povo brasileiro a sua própria essência, o que constitui uma violência estrutural e resulta numa noção de não pertencimento generalizada e em uma autoimagem defasada. Frente a isso, o Estado deve agir em prol da promoção de manifestações culturais afro-brasileiras.
Em suma, conclui-se que a desvalorização da cultura africana está diretamente relacionada a um processo sistemático de silenciamento de grupos oprimidos e resulta na falta de pertencimento de muitos indivíduos. Portanto, cabe ao Estado, por meio de uma parceria entre o Ministério da Economia (ME) e o Ministério da Educação e da Cultura (MEC), desenvolver manifestações culturais afro-brasileiras nas escolas, como, por exemplo, peças teatrais e festivais de dança, música e arte, assim como investir financeiramente na promoção de artistas e escritores que têm suas carreiras relacionadas à herança africana. Por fim, essas ações serão responsáveis por impedir o perpetuamento da desvalorização da cultura africana no Brasil.
Samille Malta
No período colonial brasileiro, a cultura dos indivíduos escravizados foi suprimida para facilitar a dominação e a exploração desse grupo pelos europeus. Apesar do lapso temporal, a desvalorização da herança africana permanece sendo uma realidade presente no país, assim como no contexto escravocrata, o que se configura como um problema que agrava a exclusão social dos cidadãos negros. Diante desse cenário, é essencial analisar a inoperância governamental e a falha do sistema educacional como fatores que intensificam tal revés.
Nessa perspectiva, o escasso interesse estatal se configura como um desafio para a resolução dessa problemática. Isso ocorre, porque, tal qual abordado pelo teórico Raymundo Faoro, o governo, muitas vezes, prioriza seus próprios interesses em detrimento das necessidades do povo. Em conformidade com Faoro, os políticos em exercício, ao se preocuparem apenas com seus proveitos pessoais, não tomam medidas efetivas para valorizar a herança africana, como investir na criação de espaços destinados a exposições culturais e artísticas dos cidadãos afrodescendentes. Sendo assim, a ineficácia governamental acarreta a marginalização social desse grupo, já que suas manifestações são negligenciadas e silenciadas, em um contexto que, mesmo após décadas da abolição da escravidão, continua perverso para a população negra.
Além disso, a falha do modelo educacional acentua a desvalorização das raízes da África no país. Nesse sentido, o sociólogo Émile Durkheim afirma que a escola é o segundo mecanismo de socialização do indivíduo, que molda seus hábitos e seus comportamentos. No entanto, as instituições de ensino promovem um ensinamento que aborda apenas a perspectiva eurocêntrica da história nacional e não retratam a contribuição do patrimônio africano para o desenvolvimento do Brasil. Dessa forma, a manutenção desse sistema de educação enfraquece o sentimento de pertencimento dos cidadãos afro-brasileiros e a formação de laços identitários, uma vez que perpetua o apagamento da memória negra ao não ensinar suas crenças e suas tradições.
Portanto, é necessária a adoção de medidas para combater os desafios para a valorização da herança africana. Logo, o Poder Executivo, responsável pelo bem-estar social, deve aumentar a visibilidade de exposições culturais dos cidadãos afro-brasileiros, por meio da criação de espaços públicos para essas manifestações, a fim de erradicar a exclusão social desse grupo. Ademais, as escolas devem inserir conteúdos que ensinem as crenças e as tradições dos negros para fortalecer seu sentimento de pertencimento. A partir dessas ações, o patrimônio desse grupo deixará de ser suprimido no Brasil como foi no período colonial.
Fonte: Portal de Notícias do G1 | Brasil Escola | Arquivo Pessoal | Cartilha Redação a Mil
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